tag:blogger.com,1999:blog-67108048707454552092024-03-05T04:06:32.366-03:00Só falatórioEm meio a divagação e filosofia um pouco de poesiaPaulo Victorhttp://www.blogger.com/profile/10168586030950559835noreply@blogger.comBlogger93125tag:blogger.com,1999:blog-6710804870745455209.post-20135965219257247222012-02-17T02:02:00.002-02:002012-02-17T02:02:33.186-02:00Uma Carta para Alice<div style="text-align: justify;">
<i>Minha querida,</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Ainda nao sei seu nome mas ja te amo, minhas palavras faltam na sua presença. Te conheço faz anos vivemos, cada um a seu modo, a degradaçao da vida e as angustias e sofrimentos de uma vida que nao faz mais sentido que nada tem reservado para nos. Mas me penitencio por este amor, como poderia eu, amar novamente, como teria eu direito a uma nova vida. Nao! eu nunca poderia fazer isto com ela, sou casado.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Se nao te digo nada e por que as palavras so atingem uma camada de nossas vidas e, como voce sabe bem, nada temos a dizer podemos falar mas tudo que falarmos nao sera capaz de traduzir os olhares e a vida que recuperei olhando pela janela embassada de meu apartamento. O que mais impressiona e a vida que existe naquele pulgueiro em que vives revela toda a sua alma, revela seu desespero. Sua miseria esta estampada naquele quarto, bem como a minha viste no vidro do prato vermelho.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Nao, em sua presença nao tenho vergonha de ser quem sou e de andar e de mostrar meu membro em riste, mas bem sabes que a droga nao permite que eu seja ninguem assim como nao es. Teu olhar placido e complacente me deprime , por que todos a quem revelei meu desespero materializado naquela droga, que agora percebo que ante sua presença nao tenho coragem de dizer o nome, mostrou pena, julgamento e indiferença. Nao voce nao vc entende a minha degradaçao</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Nao sabemos o por que nos tornamos estes seres subumanos mas compreendemos a nossa falta de existencia, nossa morte em vida, somente com nossos olhares e o que importa o que veio antes, nos ainda temos uma subsistencia pela frente. Ahhh se eu nao fosse casado, certamente tomaria a ti em meus braços e, talvez, tivesse direito a uma nova felicidade. Mas infelizmente nao pode ser. Amo te em segredo entao. Nao me deixe, mantenha sua vida, para que um dia eu possa encontrar a borboleta que me libertara de todo desespero e me dara uma nova vida.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Sempre seu Carlos </i></div>Paulo Victorhttp://www.blogger.com/profile/10168586030950559835noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6710804870745455209.post-86123750798334312502012-02-16T22:33:00.001-02:002012-02-16T22:33:33.966-02:00O vidro<div style="text-align: justify;">
Na mesa de Carlos pendia um prato de vidro vermelho em que os restos da cocaina se misturavam a inscriçoes realizadas em uma lingua que nao sabia decifrar o episodio do pulgueiro havia tomado seu ser de tal forma que cheirou uma carreira atras da outra inspirando sua saida do corpo por completo o vidro perdeu o foco. </div>
<div style="text-align: justify;">
Seu penis saltava pela calça a situaçao ignobil da falta de salvaçao inspirou-lhe um desejo sexual a tal ponto que desejaria olhar para aquele pulgueiro mais vezes numa catarse inimaginavel. Deixe me explicar, no entanto algo, nao era o sexo que o excitava mas a propria desgraça humana, a propria degradaçao daquela figura linda entremeada pelas gorduras e suores corporais daquele ser patetico que se dispunha sobre seu corpo.</div>
<div style="text-align: justify;">
O espetaculo do nojo foi o que gerou seu gozo a certeza da angustia alheia, o bizarro em toda a situaçao, poderia, certamente, esquecer o sexo que ocorria a vistas nuas mas nao a sensaçao de degradaçao que o ligava aquela moça, sim, ele a amava e o jorro de seu semem era a prova do amor pela ligaçao extrema que os seres encontram na sua propria desgraça.</div>
<div style="text-align: justify;">
Fazia poucas semanas que estava naquele lugar e pouco saia, na verdade so saia para comprar mais drogas e continuar seu ritual de auto penitencia fitava entao a desgraça alheia sem que as palavras pudessem ser formadas, nao, nao havia qualquer delas que pudesse dizer sobre seus sentimentos e as contradiçoes que se faziam presentes em sua percepçao</div>
<div style="text-align: justify;">
Disto decorreu um pensamento que o assolaria por dias "as palavras nao dizem mais nada". Como por subito a moça percebeu seus olhares indiscretos e passou a gemer cada dia mais alto como se dissesse "voce esta aqui comigo" e, no tempo em que os olhos significam muito mais que os ouvidos, seus olhares destinavam-se a janela adjacente sempre esperando que seu admirador tivesse ali. Numa cumplicidade silenciosa passaram a se entender pelos seus olhares e a condiçao de desgraça mutua substituiu-se uma continua autopiedade compartilhada, uma compaixao, um verdadeiro amor. </div>
<div style="text-align: justify;">
Mas como e possivel de toda aquela sujeira, imundicie nascer uma flor? Num pantano negro e fetido uma bela rosa vermelha brotou e os olhares desejosos e complacentes se tornaram cumplices, cumplices na sua desgraça! Enquanto ela vendia seu corpo por qualquer ninharia ele vendia seu corpo por qualquer coisa que o fizesse esquecer e, assim, ambos podiam entender a subvida que levavam.</div>
<div style="text-align: justify;">
Nao, mas isto nao era o suficiente para que pudessem dizer um ao outro qualquer palavra a final "as palavras nao dizem mais nada". Certo dia ao descer pelas escadas Carlos encontrou a jovem moça entrando no predio fitou-a e nada tinha a dizer mas sentiu seu coraçao palpitar e o mesmo aconteceu com ela. Nao trocaram uma palavra e mantiveram ainda por um tempo a relaçao que doentia de cumplicidade degradante que tinham antes. No entanto, ao encara-la algo mudou reparou nos trejeitos e percebeu nela a mesma moça que havia o recebido com tantas palavras e inconveniencias.</div>
<div style="text-align: justify;">
Tal encontro deu-lhe a certeza de que "as palavras nao nos dizem mais nada, nao significam nada, existem tantas linguagens e tantos significados que somos incapazes de compreender uns aos outros, mas resiste uma percepçao de algo que nos conecta de um sofrimento, uma dor, que pode nos fazer enxergar e, talvez, se um dia formos capazes de acessar a isto poderemos outra vez dizer algo em vez de falar palavras ao vento." Com isto seguiu seu caminho com um sorriso no rosto como quem faz uma descoberta inimaginavel, revolucionaria para a ciencia deixando a moça para tras esperando que a cumplicidade adquirida no olhar pudesse enfim se materializar em razao e dizer algo, mas o que tampouco ela sabia.</div>Paulo Victorhttp://www.blogger.com/profile/10168586030950559835noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6710804870745455209.post-21226592946419172632012-02-14T17:09:00.001-02:002012-02-14T17:09:53.478-02:00O narrador<div style="text-align: justify;">
Existem três seres que são tão importantes às histórias e falsificações que contamos a fim de ver quadros enxutos de nossa existência sairem pálidos de nosso sersão eles: os personagens, o escritor e ele o narrador. Percebam que eu diferenciei o narrador do escritor este é o senhor da história de onde todos os quadros saem enquanto aquele é somente o arauto, o bardo, que conta a história; este sabe toda a história mesmo que numa percepção iterativa enquanto aquele só a toma conhecimento na medida de uma consciência que se forma racionalmente.</div>
<div style="text-align: justify;">
O narrador é fiel ao escritor, o único fiel, pois não poderia não sê-lo está adstrito à capacidade de racionalizar a vida e a existência dos personagens daquele. Nele falta, ainda, um pouco da palidez e sobra um resto de vida, uma existência autônoma que serve de médium para a pálidez que deve se instaurar nas angústias que se materializa nos personagens.</div>
<div style="text-align: justify;">
Deixe-me demorar, apenas um segundo, será que ainda posso ficar aqui preso nesta idéia de que o narrador é um médium? Será que se é assim não brilha em si já um tanto do exagero e da falsificação dos personagens nele, e como um catalisador ele é tomado pela reação química que transforma os personagens em plasmas que se desprendem do escritor? Ahhh mas quantas dúvidas sobram em mim agora, o quanto das percepções internas de cada personagem exagerado, falso, mentiroso e velhaco é de direito do narrador? Nenhuma provavelmente.</div>
<div style="text-align: justify;">
A impaciência me toma agora, então, sigamos em frente pois já não sei mais quem sou; nesta dialética infernal divido-me em tantos que a verdade está tão longe de mim e estes personagens riem face a minha própria existência, o pouco de vida que eu empresto ao narrador para que ele arranque de mim as angústias transformando-as em personagens é o suficiente para que, como num sonho, estes velhacos escarneçam da minha existência que lhes empresto; e agora já não posso mais lhe dizer quem sou. </div>
<div style="text-align: justify;">
Desvio-me por estas sendas, inevitávelmente, não me encontro mais neste ser mas agora sou muitos enquanto sou um só e a inefabilidade do narrador já se mostra, pois somente este é o senhor da reação alquímica que poderá dividir minha vida em muitas e ver nela camadas e também destruir toda esta peça que se constrói a minha volta para que eu possa ser novamente eu. Ahhh narrador, sou eu ou sou você o guardião do sentido de minha existência? Me retire por favor deste desespero!</div>Paulo Victorhttp://www.blogger.com/profile/10168586030950559835noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6710804870745455209.post-45606827293962677222012-02-12T19:32:00.000-02:002012-02-12T19:32:17.919-02:00Os recortes de Joana<div style="text-align: justify;">
Em algum canto de seu quarto os sonhos tem de ser guardados e a vida se faz presente; para Joana este lugar foi uma caixinha de madeira onde inúmeros recortes de jornal lhe recordavam das epifanias secretas de suas noites mal dormidas. A pequena caixa de mógno havia, talvez, pertencido a uma princesa ou rainha que séculos antes guardava em sua penteadeira as cartas de amor insólitas enviadas por um oficial do exécito napoleônico que lhe prometera amor eterno. </div>
<div style="text-align: justify;">
As cartas, segundo Joana, teriam cessado abruptamente certo dia fazendo a jovem nobre convalescer e vir a óbito deixando para trás naquela caixa os resíduos de todas as suas esperanças não concretizadas que agora ela mesma cultivava como uma hera venenosa. Ahhhh, como se apegava a esta história! Aos sonhos destruídos da jovem contrapunham-se os sonhos destruídores de Joana. </div>
<div style="text-align: justify;">
Qual seria a sua razão de ser? A quais sonhos reais desfeitos eles correspondiam? O que era tão horripilante e tão indizível que não podia ser revelado com palavras, mas tão somente com sonhos? Seria um amor não realizado como o da jovem ou o ódio a sua vida materna, tudo a que tinha se resumido sua existência. </div>
<div style="text-align: justify;">
A história da jovem nobre não se tratava de um sonho mas de uma fábula para as verdades guardadas nos recortes contidos dentro da caixa. Quantas vezes nos pegamos fazendo isto, fornecendo invólucros lindos para tudo que não podemos, não conseguimos ou, simplesmente, não queremos dizer? Não, não direi uma palavra sobre o conteúdo dos recortes de Joana, não poderia traí-la de tal forma manterei seus segredos a salvo.</div>
<div style="text-align: justify;">
No entanto, direi ainda uma palavra sobre o brasão na caixinha de madeira antiquíssima. Os leões que se cruzavam entorneados de estrelas e separados por um único sabre não diziam o suficiente mas eram certamente os guardiões dos portões oníricos tanto para a jovem quanto para Joana que confiavam na bravura destes seres aptos a dizer não para assegurar a guarda de seus mais preciosos segredos. </div>
<div style="text-align: justify;">
Então, eu, este narrador, devo também ser no curso desta história cauteloso como o esgrimista e feroz como o leão pois estou entremeado das estrelas que brilham pelas angústias secretas e sabidas destes personagens tão exagerados e falsificados que o escritor desta história me confiou.</div>Paulo Victorhttp://www.blogger.com/profile/10168586030950559835noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6710804870745455209.post-21229735927520222842012-01-23T07:21:00.001-02:002012-01-23T07:21:28.944-02:00NormalSe alguem souber me explica?<br />
Sou tão feliz, de cantar, de ir<br />
e nunca mais voltar àquele<br />
<br />
Normal eu sou também! Eu sou<br />
com certeza, por que minha vida<br />
vai e vem. Eu também preciso de<br />
alguém, de um afago, de sossego<br />
<br />
Então se alguém souber o que é<br />
Me explica por favor pois nas<br />
sendas onde vou só a loucura<br />
pode ser chamada de normal<br />
<br />
Então me entrego a ela, a paz<br />
e a certeza de que não se trata<br />
de um filme toda beleza que vi.Paulo Victorhttp://www.blogger.com/profile/10168586030950559835noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6710804870745455209.post-32814648944291290352012-01-19T15:25:00.001-02:002012-01-19T15:25:33.673-02:00O SolEscaldante e benevolente<br />
que seria de tu sol ardente<br />
se deste quarto não saíse<br />
para vê-lo brilhar e com a<br />
faca entre os dentes lutar por tiPaulo Victorhttp://www.blogger.com/profile/10168586030950559835noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6710804870745455209.post-68370469470519122682012-01-18T12:20:00.000-02:002012-01-18T12:21:02.408-02:00Os DiasOs dias que vão<br />
e que vem não sabem<br />
mas preciso de alguém.Paulo Victorhttp://www.blogger.com/profile/10168586030950559835noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6710804870745455209.post-75548917807662311162012-01-13T11:59:00.002-02:002012-01-13T11:59:28.807-02:00O espelho<div style="text-align: justify;">
Numa das noites em que os sonhos se tornavam mais reais que a realidade e Joana se retorcia na cama oscilando entre ganhidos e gritos secretos e mudos algo inusitado ocorreu. Tudo desfez-se, tudo toda a realidade e o sonho preencheu-a por completo. Não havia mais diferença entre estar acordado e estar dormindo, o segredo de Joana podia ser visto as claras e mesmo seu marido, se tivesse acordado, inevitavelmente teria tido a certeza do que se tratava.</div>
<div style="text-align: justify;">
Uma criança de vestido rosa e babados nos braços e na barra do vestido olhava de modo intermitente para a face de Joana e ora sorria ora chorava. Tal visão a recordou de sua infância, mas não, não podia ser ela mesma pois o parque de espelhos aonde se via presa mostrava-lhe sua forma adulta. Estava, então, presa entre a infância e a maturidade. Quem era ela? Era a única pergunta cabível naquela circunstância. Assim como a realidade, desfez-se também sua identidade! </div>
<div style="text-align: justify;">
Passou a vagar sobre aquele parque de espelhos e a todo momento reconhecer-se nas faces ignóbeis dos seres que ali habitavam, mulheres com crianças de colo, meninos travessos que corriam, homens impacientes que desejavam logo retirar-se para o primeiro bar, meninas que mordiam os lábios apaixonadas, rapazes venenosos que lançavam todas as suas artimanhas para conquistar as moças e todo tipo de trapaceiros que a vida produz. Todos eram Joana e Joana era todos. Não se tratava de mera compaixão, mas de verdadeiro reconhecimento físico. Quantas faces deveria ter? Não importa por que todas eram uma única.</div>
<div style="text-align: justify;">
Errava e o desespero de ser todos deu-lhe a certeza de não ser nenhum deles! A igualdade implicava naturalmente na falta de qualquer pertinência de si própria numa insegurança, numa revolta, numa indecência de sua existência inútil indiferenciável, sem valor. Joana agora chorava e corria em busca de braços que lhe pudessem confortar enquanto a menina sorria, com os dentes brancos, e lhe estendia os braços mas nunca estava um instante sequer mais próxima. O copioso choro de Joana parecia divertir aquele ser mau, monstruoso, que lhe tinha uma face tão amistosa e divertida.</div>
<div style="text-align: justify;">
Este sonho era ainda mais poderoso que os outros este era a revelação da vida que se desfazia interiormente de Joana, mas por que? O que estava acontecendo, de onde viera tal dor, tal angústia? Não, não podia falar as palavras lhe faltavam mas contraditóriamente tal sonho lhe provocava sensações eróticas que lhe fizeram acordar com os seios intumecidos e toda molhada, arfante como se tivesse feito sexo! E como, contraditóriamente, esta era a expressão mais forte de seu desespero, como o sexo é desesperador...</div>Paulo Victorhttp://www.blogger.com/profile/10168586030950559835noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6710804870745455209.post-25734667286273846742012-01-11T09:15:00.002-02:002012-01-11T09:15:35.346-02:00E agoraE agora que respirei, novamente<br />
me perdi, não sei o que estou<br />
fazendo nesta senda difamante<br />
outra vez não respiro, não, não<br />
<br />
Só consigo perguntar-me o que<br />
estou fazendo aqui? Não sei e<br />
tampouco preciso, saber, por ora,<br />
como cheguei aqui, mas preciso ir<br />
<br /> <br />
Agora, que respirei, eu entendo podem<br />
me dizer que sou fraco, que novamente<br />
errei pois aqui voltei, sim voltei! Mas agora<br />
eu sei sair, ileso, não sou mais um bebê<br />
<br /> <br />
Então vou-me, não preciso de motivos<br />
só de moinhos de vento e um sorriso no<br />
rosto. Só de histórias para contar e honrar<br />
minha idade a aventura e a loucura! <br />Paulo Victorhttp://www.blogger.com/profile/10168586030950559835noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6710804870745455209.post-32295829489059480722012-01-11T00:23:00.001-02:002012-01-11T00:23:14.206-02:00O violãoMeu violão toca os acordes<br />
de uma vida que vibra em<br />
notas surdas, em vidas mudas<br />
tristezas e alegrias e indiferenças<br />
<br />
Minha poesia vive neste lugar<br />
me chama, no meio de tanta<br />
loucura, vontade de criar de<br />
emitir algum acorde com som<br />
<br />
Meu violão tocas os acordes<br />
de notas mudas, impuras sem<br />
medos ou negações, aqui tudo<br />
me permito, inclusive ainda ser<br />
<br />
Minha poesia morre neste lugar<br />
me grita do outro mundo, acorda<br />
para mais uma vez eu ser cadáver<br />
fétido, lúgubre e ainda uma vez vivoPaulo Victorhttp://www.blogger.com/profile/10168586030950559835noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6710804870745455209.post-4260258602180644072012-01-10T23:54:00.001-02:002012-01-10T23:55:19.666-02:00Um ambienteRecortado de palavras, sons,<br />
Imagens e cheiros, pessoas<br />
passam por ele e vêem tudo<br />
que se mostra nos detalhes.<br />
<br />
Mas há tanto aqui que tudo<br />
é só o que se perde, só o que<br />
não tem sentido o suficiente<br />
para ser algo, mas ainda assim<br />
<br />
Este lugar ainda é um, um ambiente<br />
cheio de memórias afetivas e estórias<br />
de vidas, de drogas, de músicas, enfim<br />
de vida. E eu que faço aqui?<br />
<br />
Eu que não tenho vida, só existência<br />
que só sinto, não vivo, como posso<br />
aqui estar embriagado, mesmo sem<br />
qualquer droga usar, sem entorpecer.Paulo Victorhttp://www.blogger.com/profile/10168586030950559835noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6710804870745455209.post-40837100833026720522012-01-09T16:07:00.000-02:002012-01-09T16:07:06.184-02:00Solidão a dois<div style="text-align: justify;">
Talvez me perca nestas histórias por que as palavras soam tão diferentes a olhos diferentes, mas há algo que nenhum daqueles que me leem, e já viveram um amor, podem me negar como uma verdade absoluta: ser sozinho é diferente de ser solitário e, mesmo isto, é diferente de viver em solidão. Para Carlos a presença ou ausência de Alice, pelo menos num primeiro momento, era indiferente não despicienda ou desimportante mas simplesmente parte do não ser. </div>
<div style="text-align: justify;">
Aliás, era como se tivesse uma única conveniência, estar ali. Não importava fazendo o que sua existência era inútil só sua presença é que lhe importava e mesmo assim muitas vezes a bile se ouriçava deixando o sangue mais vermelho e o fazendo vituperar contra a mesma presença que era seu único bálsamo. Sim, Carlos havia tornado-se sozinho mas, mais do que isto, ele passou a viver na solidão. Este, provavelmente, era seu principal afrodisíaco para Alice. Esta compreendia, sem saber verbalizar, que vivia na solidão. </div>
<div style="text-align: justify;">
Acho que a história de seu primeiro encontro pode fazer entender melhor o que estou dizendo. Como sabemos Carlos perdeu sua família, mas sabemos tão pouco sobre sua personalidade, salvo o que restou após a destruição, a materialização do ambiente, a escolha inconsciente pela punição, a casmurrice e puidez de sua existência não nos contam quem era este homem e, talvez um dia, devamos nos dedicar a isto, mas por enquanto sabemos o quanto basta!</div>
<div style="text-align: justify;">
De Alice por outro lado sabemos tão pouco sobre sua vida, sobre quem era o que fazia e por que ali vivia se era pobre ou rica ou qualquer platitude do tipo, mas quanta riqueza existe nos detalhes de sua personalidade naturalmente incompleta, naturalmente na busca de suprir uma angústia com pessoas, passados ou qualquer coisa que a fizesse ter algum sentido. E também é quanto basta para que possamos entender o que se deu! </div>
<div style="text-align: justify;">
Mas, por uma questão de exatidão, acrescentarei algo, Alice já morava naquele lugar mas seu apartamento era muito diferente da sordidez de Carlos. Era belo, bem decorado com vitrais que faziam o sol no fim de tarde ter diversas colorações cheirava a flores cultivadas com todo o zelo nos mais insuspeitos cantos do ambiente. Ocorre que não importava o quanto o ambiente fosse feliz pérfidamente o olor da solidão invadia o ambiente e, ao contrário da casa de Carlos, o ambiente tentava esconder o estado de espírito de Alice, sua condição angustiada e angustiante.</div>
<div style="text-align: justify;">
No dia em que Carlos se mudou levou consigo uma malade roupas e uma caixa de livros, os demais pertences seriam entregues no dia seguinte por uma transportadora. Sua cabeça baixa e seus all star totalmente anacrônicos eram incapazes de esconder seu histrionismo interno, seu desejo de redenção mas isto não poderia ser visto por Alice que o recebeu com um sorriso completamente inconveniente (dada a circunstância) e, sem qualquer pudor, lhe encheu de perguntas e ofereceu-se para ajudá-lo com a ambientação. Manifestações infrutíferas de uma cordialidade forçada que só recebiam respostas monosilábicas e uma crescente irritação.</div>
<div style="text-align: justify;">
Não poderia, aos expectadores haver nada de mais contraditório entre as personalidades que ali se chocavam até quase se destruir, sim havia um claro embate de personalidades. Mas quanto engano o que havia ali, na verdade, era a manifestação de uma e mesma necessidade: fugir da solidão! Ocorre que enquanto o primeiro depositava suas forças na sua própria capacidade solitária de não viver na solidão; a segunda depositava todas as suas esperanças numa busca incessante por um sentido externo. Não havia nada de diverso além das direções em que se moviam os corações. Para ambos a existência do outro só importava enquanto sua presença física pudesse servir de relembrança para seus próprios anseios. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>Paulo Victorhttp://www.blogger.com/profile/10168586030950559835noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6710804870745455209.post-73463526116422536452012-01-08T06:08:00.000-02:002012-01-08T06:08:42.632-02:00Alice (no país das maravilhas)<div style="text-align: justify;">
Quantas maravilhas existem neste mundo? O que pode fazer nossa existência valer a pena? Ahh, pobre Alice, vivia antes de Carlos, a se perguntar por estas coisas vivia em busca de um sentido mas como poderia encontrar algum se era incapaz de olhar para dentro? Se era incapaz de perceber que tudo que vale a pena é viver? Que não há sentido algum, em lugar algures fora de si; que deveria ser responsável por si mesma?</div>
<div style="text-align: justify;">
Mas o surgimento de Carlos abandonado perdido, drogado, infeliz naquele prédio, naquele apartamento minúsculo ao lado do seu retirou-lhe qualquer chance de, pelo menos por enquanto, encontrar qualquer destes pensamentos. Como os fatos externos são capazes de influenciar nossa vida interna e atrasar ou acelerar os encontros conosco dos quais não poderemos fugir. A chegada de Carlos lhe deu um sentido, curar uma alma ferida.</div>
<div style="text-align: justify;">
Mas como poderia se a sua também encontrava-se ferida! Como servir sem forças para continuar? Vivia naquele apartamento fazia alguns anos e não tinha qualquer amigo, não, não to falando de colegas, deste tinha muitos! Saia, bebia, sorria mas isto não impedia sua alma de ser triste. Na impotência deu-se para Carlos, não sexualmente, mas sua alma, e o que de mais importante uma mulher poderia nos dar. O que elas sempre nos deram?</div>
<div style="text-align: justify;">
Sem se importar sequer se seriam amadas, este era o seu cílicio, entrar num diálogo onde elas precisariam descobrir o que a outra parte pensa e sente e como elas o fizeram bem. Como um cão ela cuidou de Carlos sem sair de seu lado esperando um pouco de afeto, que como vimos, demorou mas veio. </div>
<div style="text-align: justify;">
Surgiu então seu país das maravilhas! Sua vida agora tinha um sentido, mas tão subumano, tão insignificante, tão distante do papel grandioso que uma mulher deve ter na vida de um homem. Mas há como elas se satisfazem com pouco apesar do seu cansaço. Sim, apesar do seu cansaço as mulheres tem uma capacidade que nunca teremos, a de serem resilientes o suficiente para nos cuidar e, mesmo quando vão embora, sentem o amargor da culpa como se fosse sua responsabilidade o fim</div>
<div style="text-align: justify;">
Perdoem-me a digressão, mas Alice e seus belos azuis fitavam o passado onde nada havia sentido e caminhava sobre o mar buscando um pouco de àgua em que pudesse se agarrar, em que pudesse se esconder! Não era necessário! Esta era Alice sempre disposta a oferecer seu ouvido terno e sua boca voraz, sempre pronta a dar sem nada exigir, sem nada receber em troca. Mas será que isto é uma vida? Será que isto é o suficiente para qualquer ser humano? </div>Paulo Victorhttp://www.blogger.com/profile/10168586030950559835noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6710804870745455209.post-32512094712787569822012-01-07T23:31:00.000-02:002012-01-08T06:08:51.167-02:00VelhiceÉ claro que não entendemos<br />
que um dia não precisaremos<br />
mais de uma paixão ardente<br />
de um romance, à lá mexicana<br />
<br />
Caliente! Mas como poderiamos,<br />
justo nós, que dos contrários nada<br />
sabemos, justo nós que amanhecemos<br />
sobre a pedra sonhando, pra sempre?<br />
<br />
Talvez, este dia chegue com a mansidão<br />
de um cão e abaixe suas orelhas para que<br />
as afaguemos e nós, insensatos, chispamos<br />
com ele. Mas o cão é nosso melhor amigo <br />
<br />
Esperará, pacientemente, o dia em que<br />
prontos a perceber que nossa vida,<br />
não é feita de amores do passado,<br />
nem de desejos do futuro, ou do agora<br />
<br />
Mas daqueles que abaixam as orelhas...<br />
Com o único fito de nos ensinar,<br />
quem de fato é nossa família, lá encontrar<br />
iremos nossa, tão procurada, harmoniaPaulo Victorhttp://www.blogger.com/profile/10168586030950559835noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6710804870745455209.post-77145479036895935472012-01-03T20:05:00.001-02:002012-01-03T20:05:14.153-02:00Me alimentoEu sou um cadáver, ainda não viram?<br />
Não sei sobre estes a quem nomeiam.<br />
Eu simplesmente me alimento de sua<br />
angústia, tristeza, dor, seu sentir todo<br />
<br />
Não me interessam estes que são algo.<br />
Só me interessa o nada que lhe habita<br />
Sim, sou um vampiro, um tipo verdugo<br />
Que lhes fere com os dedos, palavras<br />
<br />
Sim, eu sou este que nada é, impávido<br />
Nada me apieda, exceto talvez a fala<br />
Que sai de sua entranha, dizer não sabe<br />
<br />
Pois esta sou eu, sou sua morte e nascer<br />
Sou a poesia, sou a magia, sou sua vida<br />
Sou este cadáver que quando olhas, vê.Paulo Victorhttp://www.blogger.com/profile/10168586030950559835noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6710804870745455209.post-90363811087376624872012-01-03T19:08:00.002-02:002012-01-03T19:08:18.742-02:00HojeNão, hoje não quero a leveza<br />
não quero ser puro ou correto.<br />
Me jogo, desta vida, na correnteza<br />
Eu não, não quero ser reto<br />
<br />
Hoje, só por hoje deixa-me ir,<br />
Um dia eu terei de voltar. Não,<br />
não hoje. Hoje eu só quero a ti!<br />
Minhas entranhas gritam, vão!<br />
<br />
Eu digo para elas, vão, sejam<br />
sejam para sempre, por agora,<br />
eu nu, com toda impureza.<br />
<br />
Sim, só hoje, me despirei dela<br />
desta roupa nojenta e lúgubre.<br />
Hoje, só hoje, serei apenas euPaulo Victorhttp://www.blogger.com/profile/10168586030950559835noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6710804870745455209.post-72905105867285152052012-01-03T10:58:00.002-02:002012-01-03T10:58:47.454-02:00PoesiaEla não precisa de você<br />
ela não quer palavras<br />
ela não tem saudades<br />
ela não tem maldades<br />
<br />
Ela não precisa de amores<br />
não verás nela quaisquer<br />
dissabores, horrores, dores<br />
<br />
Só verás poesia, lépida, errante<br />
só verás formas, leves, e é tudo<br />
Sim, é tudo que verás ela não<br />
precisa ser poética, por que é<br />
<br />
Ela não precisa ser patética<br />
por que é segura de si, sabe<br />
quem é, não tem dúvidas ou<br />
mesmo angustias, só tem a si.<br />Paulo Victorhttp://www.blogger.com/profile/10168586030950559835noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6710804870745455209.post-78973091483676252732012-01-02T07:26:00.002-02:002012-01-02T07:26:58.114-02:00TristezaDe repente uma sensação<br />
se apoderou de mim<br />
não sei dizer se é realidade<br />
se é verdade, ilusão<br />
<br />
A chuva continua na janela<br />
ela continua ali sim<br />
Meus pensamentos viajam<br />
mas a chuva conduz<br />
<br />
É ela que não me vai embora<br />
que insiste em ficar<br />
Não desiste de mim, por que?<br />
Por que não se vai?<br />
<br />
Eu sei! Enquanto aqui estiver<br />
não tem jeito, estarás<br />
Já faz parte de mim, companheira<br />
<br />Paulo Victorhttp://www.blogger.com/profile/10168586030950559835noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6710804870745455209.post-73895321869554441242012-01-01T08:49:00.001-02:002012-01-01T08:49:17.430-02:00O pulgueiro<div style="text-align: justify;">
O pulgueiro que Carlos via pela janela encontrava-se tão perto e tão distante. Da carreira de cocaína só restava agora os restos espalhados pelo vidro e o corpo de Carlos havia se tornado, neste momento, uma máquina movia-se de lado a lado com impaciência. O ambiente agora era a si próprio e o chão havia retornado, pelo menos em um transe onírico. </div>
<div style="text-align: justify;">
Não, mas isto não era o suficiente a proximidade com o pulgueiro lhe fazia inquietar-se mais do que o movimento involuntário de seu corpo, controlava-se então e olhava pela minúscula janela em direção àquele prédio, velho, promíscuo, lúgubre onde qualquer resto de humanidade se mostrava para ele inútil. Isto tornou-se um ritual diário, sua vida o permitia tais prazeres, no entanto o pulgueiro, continuava, vez após vez criando o mesmo impacto.</div>
<div style="text-align: justify;">
Percebeu um dia, no auge de seu transe, onde visão e ouvidos simplesmente só ouviam os uivos de seu coração uma janela e nela uma mulher deitada que gemia, claramente fingindo. Um homem gordo, cheio de pelos, indecente, gritava palavras de baixo calão enquanto a mulher submetia-se a tal aviltamento. O jorro de semên dele, visivelmente, deixou-a enojada mas suas mãos se ergueram como se esperasse algo, sim o seu pagamento. Mas o homem não deu, ao invés disto, lhe agrediu firmemente até que seu corpo sangrasse e ela ficasse ainda mais humilhada </div>
<div style="text-align: justify;">
Carlos olhava aquela situação impassível sem olhos, ouvidos, mãos ou qualquer corpo que pudesse fazer algo pela moça, sua inquietude havia se retirado de seu corpo e voltado para seu lugar de direito sua alma. Ainda assim o transe da droga se afastou por um segundo, um somente, e ele pode ver os olhos azuis da bela dama da tarde vermelhos de tanto choro. Ahh o pulgueiro também era uma extensão de sua alma e o aviltamento da moça também era uma extensão de seu aviltamento, sentia como se o sangue corresse de sua carne. </div>
<div style="text-align: justify;">
Mas assim como não podia fazer nada por si, não o podia por ela. Como estamos tão perto e tão distantes a próximidade física e espiritual seguia-se uma profunda distância atual, ou seja, uma impotencia venal ante o acontecido. Muito provavelmente fruto da compaixão, da certeza de que a violência que ela passava era a mesma que infligia a si mesmo. Que mais poderia fazer se não manter-se intacto esperando que alguém os salvasse?</div>Paulo Victorhttp://www.blogger.com/profile/10168586030950559835noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6710804870745455209.post-61939919857800269012011-12-31T18:10:00.001-02:002011-12-31T18:35:05.737-02:00O perigo<div style="text-align: justify;">
Neste dia em que termina o ano de 2011 parece ser adequado que depois de muita meditação possamos retornar à nossa busca pelo significado de casa mas, para isto, devemos primeiro recordar o que já aprendemos para a partir daí podermos seguir em frente. Senão vejamos: primeiro descobrimos que o conhecimento do sentido de casa, na espécie, responde a um apelo essencial e, justamente por isto, não está sujeito a platitudes; aprendemos ainda que tal sentido tende a se esconder e, por isto, teremos feito uma grande evolução se pudermos ao menos nos aproximar dele; por fim descobrimos que ele não pode ser revelado por uma platitude qualquer por que ele mesmo não é uma platitude qualquer.</div>
<div style="text-align: justify;">
Agora devemos, com a mesma paciência, entender claramente por que não se trata de uma platitude qualquer. Poderia dizer que o motivo de tal afirmação é que ele se encontra no plano da vida inalterável que se abre para nós por meio de imagens tecidas, mas mesmo isto seria uma repetição e, assim, uma platitude. Não, precisamos, devemos avançar! Mas como se ainda não encontramos qualquer critério capaz de nos aproximar deste apelo essencial? Devemos continuar procurando em Rilke enquanto paulatinamente nos afastamos de si.</div>
<div style="text-align: justify;">
<u>O perigo se tornou mais seguro que a segurança</u>. Esta é a afirmação de Rilke que segue àquela que iniciou nosso desafio e ela tem algumas coisas a nos mostrar. Ora, se as casas nada mais retém elas eram nossa segurança então, muito claramente, Rilke nos revela o que em um modo de ser determinado eram as casas: a segurança. Por outro lado, revela-nos também que elas deixaram de ser isto fazendo com que nosso trabalho não esteja terminado, pois precisamos descobrir do que elas se tratam hoje, no nosso modo de ser!</div>
<div style="text-align: justify;">
A afirmação também revela uma despotenciação da capacidade de cumprir tal função e uma valorização do perigo. Contudo, resta para nós, ainda impensado qual o sentido do perigo. Não sabemos, ainda, de que perigo o autor fala. Entretanto, podemos com certeza afirmar que este perigo por sua natureza se opõe à segurança que antes era oferecida pela casa. O que significa que este é um termo de nossa empreitada de importância capital posto que ele é o substituto desta segurança. Devo dizer, ainda, também não está suficientemente explicado do que se trata a segurança.</div>
<div style="text-align: justify;">
Mas nos atenhamos, neste momento, ao perigo por que este é o único termo de nosso caminhar que em seu significado está em consonância com o modo de ser de nosso tempo. Por isto descobrir por que ele se tornou mais seguro nos levará na direção da descoberta de qual o sentido original da segurança. Assim descobriremos também o sentido <i>verdadeiro</i> da segurança que a casa representou um dia e, então, poderemos perguntar pelo seu atual sentido pois poderemos perguntar por que houve a despotenciação deste valor.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Amigos, nada ficou suficientemente claro mas não nos propomos a ser claros o suficiente mas rigorosos o suficiente e impetuosos o suficiente para avançar em direção à algum lugar onde nosso problema possa obter um termo aproximado. Assim, a meditação e a demora em cada uma de nossas conclusões serve para que possamos aos poucos nos adaptar com esta vida que se presenteia para nós cada vez que ousamos rasgar o véu das imagens que tecemos. Feliz ano novo, que este pequeno escrito possa incitar o pensamento de vocês sobre quais os motivos pelos quais a segurança fugiu das casas! Abraços.</div>Paulo Victorhttp://www.blogger.com/profile/10168586030950559835noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6710804870745455209.post-23687721282146113482011-12-31T08:15:00.001-02:002011-12-31T09:54:13.519-02:00A amargura<div style="text-align: justify;">
Interessante observar como os ambientes carregam, materialmente, nossos estados de espírito. Foi com este pensamento que Carlos, um ano após a morte de sua mulher, se entendeu amargurado. Aquele ambiente ofendido, minimalista, com simplesmente uma mesa, um quadro abstrato com cores inexplicáveis e uma janela minúscula que se defrontava com um prédio, um pulgueíro. </div>
<div style="text-align: justify;">
A carreira de cocaína encontrava-se sobre a mesa, que tinha um tampo de vidro, longa, imponente esperando a catárse de seu dono para liberá-lo da amargura, transferi-lo para um lugar onde aquele ambiente desesperador, minúsculo e doentio como a alma de Carlos poderia se expandir e esquecer de toda a dor que havia lhe provocado a passagem pela soleira da porta da vida que o levara até aquela ventura.</div>
<div style="text-align: justify;">
Coisas espalhadas pelo chão, sujeira nas paredes, guimbas e cinzas de cigarros caidas no sofá já carcomido pela brasa que havia se apagado, um verdadeiro caos, um lugar onde não existia ordem. Mesmo o chão do apartamento rídiculo não se encontrava em baixo, mas como poderia? Na verdade, devo dizer, aquele apartamento sequer tinha chão tal era o estado de espírito de Carlos. Não, também não havia ali qualquer parede ou esteio e, por isto, a cocaína esperava pacientemente para retirá-lo daquele transe.<br />
Ahhh como os ambientes refletem nossos espíritos. Faziam três meses que havia se mudado para aquele lugar, não, não se tratava de falta de dinheiro ou coisa do tipo. Se perguntasse à Carlos tão pouco ele poderia lhe explicar por que havia escolhido aquele lugar ermo, umido, fétido para morar. Mas, leitor, se me deres a honra talvez eu possa oferecer-lhe uma explicação: tratava-se de um lugar em que sua alma sentia-se refletida. <br />
A carreira de cocaína era a única coisa que tinha sentido naquele ambiente e, também, na compleição espiritual de Carlos. A morte de sua mulher tornara sua vida sem sentido, assim como seu apartamento. Talvez seja o próprio desejo da punição, talvez ele se culpasse pela morte de sua mulher, mas como não tinha chão jazia parado olhando a carreira de cocaína e todo o sentido que só ela podia lhe oferecer naquele momento.<br />
Os ambientes refletem, materialmente, a realidade interna do espírito, assim, percebam, toda a descrição do ambiente é a descrição do estado de espírito de Carlos. Sua amargura não poderia nunca ser descrita em palavras mas para os que sabem ler o mundo a vida material poderá desvelar algo sobre o que encontra-se preso em nossas percepções iterativas que são indizíveis.</div>Paulo Victorhttp://www.blogger.com/profile/10168586030950559835noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6710804870745455209.post-73961294492334903862011-12-28T09:13:00.000-02:002011-12-28T09:13:15.957-02:00Memória<div style="text-align: justify;">
Carlos continuava taciturno mas agora era Alice que jazia com seus cabelos negros e olhos azuis no seu colo fitando o horizonte entrecortado pelos prédios que apareciam suntuosos pela janela da sala. Seus olhos perdiam-se em lugares inacessíveis para o seu amor, mas eis que de repente, não mais que de repente, Alice tinha quinze anos e encontrava-se deitada na cama de seu quarto, na casa de seus pais enquanto no rádio tocava uma banda de rock, neste momento ainda irreconhecível.</div>
<div style="text-align: justify;">
Mechas vermelhas nas pontas do cabelo e lágrimas que escorriam pelo rosto em um processo de catárse provocado pela música, um estado alterado de consciência. Não tinha plena consciência de como tinha ido parar ali mas quem o tem quando as memórias afetivas se apossam de nós? Quem pode descrever em palavras o porquê da nostalgia? </div>
<div style="text-align: justify;">
Olhava aquele ambiente e a vivacidade de sua presença sem entender qualquer coisa, mas qual é mesmo a necessidade que temos de entender? Quem foi que nos disse que precisa tudo ser explicado? Então dexiou-se levar, na certeza de que muitas aventuras das que vivemos e, talvez, as principais estejam nos desafios impostos pela nossa mente, nos ciclos que nossa mente invoca por alguma razão ainda por ser descoberta. </div>
<div style="text-align: justify;">
E levantou-se da cama, ainda com sono e meio perdida, acendeu um cigarro e um baseado, se livrou das cinzas caídas no chão e, então, não havia mais a consciência de estar num estado alterado de consciência, a vivacidade daquela vida passada tornou-se completa. Que podia fazer? Ahhh quantas questões... Nesta idade, ainda que não percebamos, temos muitas questões e o que diferencia esta das futuras é somente isto, a consciência da dúvida. </div>
<div style="text-align: justify;">
Não, o choro não foi embora, apoderou-se ainda mais fortemente de seu ser e o cigarro de maconha secava sua boca e fazia seus olhos doerem empuleirados na fumaça que deixava seus olhos vermelhos. Não, sabia agora, que naquele momento não tinha sido feliz, mas o que é mesmo a felicidade? Muito provavelmente algo que sabemos que temos sem nunca poder descrever com palavras. Quantas percepções iterativas prescindem destas? E como somos felizes se, por instante feliz, conseguirmos chegar perto daquilo que há de verdadeiro nestas percepções, se conseguirmos ter a suprema honestidade.</div>
<div style="text-align: justify;">
Jazia, ainda, no colo de Carlos mas seu olhar não estava mais perdido estava desperto como se tivesse visto somente o suficiente para poder se aproximar deste verdadeiro e entender qual seu papel neste modo de ser em que a vida se presentava. Sentiu então, de súbito, as mãos de Carlos deslizarem sobre os seus cabelos negros e agora vertiam lágrimas sobre seu rosto e, como num dia de chuva em que surge um arco íris, sua face brotava um sorriso. Anunciando que novos tempos haviam em fim chegado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>Paulo Victorhttp://www.blogger.com/profile/10168586030950559835noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6710804870745455209.post-80772112560753858832011-12-23T06:49:00.001-02:002011-12-23T06:49:38.306-02:00O inícioTodos eles são eu, por que?<br />
todos os meus eu são eles<br />
a limpidez e a leveza deles<br />
são minha e também sua<br />
gravidade e angústia, por isto<br />
são tão nítidos para mim, mas<br />
também tão cheios de coisas<br />
a serem descobertas, tantas<br />
histórias para contar, tantos<br />
sentimentos para dissecar.<br />
Ah se eu pudesse, minhas<br />
máscaras tirar, veria inúmeras<br />
faces a se digladiar, de um só<br />
ser mil verias brotar. Mas é certo<br />
que isto não posso fazer, se não<br />
perco minha mágica o meu direito<br />
de muitos, de todos, de qualquer um<br />
poder ser, perco meu direito de viver.Paulo Victorhttp://www.blogger.com/profile/10168586030950559835noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6710804870745455209.post-64698873229887306872011-12-22T11:39:00.001-02:002011-12-22T11:39:57.815-02:00O chaveiro<div style="text-align: justify;">
Uma vida de pequenos e lentos gestos, as chaves abrem as portas a cada girar. Giram uma passagem para um mundo novo, para o transe de uma vida nova e cheia de surpresas. Mas o quanto os pequenos gestos se envolvem neste processo que vai desde uma causa eficiente que cria as chaves, ou seja, a possibilidade de abrir as portas e o próprio abrir das portas? </div>
<div style="text-align: justify;">
Aquele homem, que era recorrente, apareceu e com suas mãos talhou uma chave cheia de pequenos dentes com cuidado e carinho, pois estes são necessários para que as chaves abram portas, e entregou-lhe na mão. Tal gesto de passagem é o primeiro do processo em que se pode decidir, entre guardar aquele talismã ou utilizá-lo como meio para encaminhar-se numa direção ainda desconhecida. </div>
<div style="text-align: justify;">
A face rígida e dura refletia a certeza daquele que precisa manter-se sempre concentrado nos pequenos gestos e dava demonstrações de quantos pequenos gestos continuam este processo, que se inicia com a condição para que seja possível exercer uma transformação. Por isto enrijeceu o rosto e continuo admirando aquele tesouro, ainda sem saber o que fazer. </div>
<div style="text-align: justify;">
Apesar de recorrente as únicas coisas que conhecia dele era a face rígida e dura concentrada e cheia de marcas da vida, como aquelas pessoas que passam tanto tempo entretidas em revelar algo que se tornam também parte deste algo. O cenário era sempre desconhecido, um alerta, de que o uso do talismã seria também uma passagem em direção ao desconhecido. Quanta angústia pesava em seu coração ao pegar aquele fruto de pequenos gestos e saber que também, se assim o desejasse, deveria fazer pequenos gestos, lentos gestos.</div>
<div style="text-align: justify;">
Fazer lentos gestos em uma vida cambiante como a nossa não é algo fácil ou de somenos, é entretecer-se com algo superior à qualquer gesto impensado que cometemos com relances de raciocínio que nos levam a lugares que sequer sabemos que desejavámos ir. Não, neste caso a vida impunha-lhe uma gravidade que não lhe permitiria avançar sem enfiar lentamente, refletidamente, e girar ainda com todo cuidado. Fazer diferente disto poderia significar quebrar a chave, perder o talismã e com ele a chance de passar ao outro lado.</div>
<div style="text-align: justify;">
Enfiou a chave na porta ainda sem saber se realmente gostaria de deixar este quarto e seguir em direção a um novo ambiente, à uma nova vida, mas com a disposição e a coragem de se lançar. Viu então o homem de feições rígidas parado à seu lado como se a admoestasse dos perigos da vida, dos perigos que só podem ser anunciados em lentos gestos; mas não desistiu.</div>
<div style="text-align: justify;">
Ao girar a chave, acordou sobressaltada, sem sequer ter a oportunidade de ver o que lhe esperava. Arfava como se tivesse perdido todo o ar, como se por um segundo tivesse corrido um risco de vida. Como se um segredo estivesse para ser revelado, um segredo que nunca era para ser visto. Agradeceu ter acordado, mesmo estando frustrada, gostaria de ver o que havia por trás da porta. Seu marido como sempre deitou-lhe a cabeça nos ombros e consolou-lhe e Joana começou a chorar, como criança que perde um brinquedo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>Paulo Victorhttp://www.blogger.com/profile/10168586030950559835noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6710804870745455209.post-4226319178819074052011-12-20T09:02:00.000-02:002011-12-20T09:02:51.507-02:00Seu lugar<div style="text-align: justify;">
Como as coisas tem tantos significados? Será que é possível, enganar tanto uma pessoa? Ser tão mal assim que brinca com os sentimentos dos outros, fazendo elas de lixos humanos? Ou talvez tudo tenha um significado diferente para cada pessoa, um que não podemos entender, pelo menos sem ver o quadro todo. </div>
<div style="text-align: justify;">
Os significados fascinavam Gabriela que, 5 anos antes daquele fatídico dia, havia perdido toda a fé na sua vida e vagava pela rua se prostituindo e dando-se a qualquer um que lhe passava uma nota de 20 reais, mas não tinha mais o desejo de significar nada para ninguém. Por isto os significados lhe interessavam tanto, por que ela mesma não tinha mais nenhum. Objetos, brinquedos, são simples objetos de desejo que se perdem na noite com o sono pesado posterior ao jorro de semên ou que são expulsos de sua vida no minuto em que se tornam atuais e não mais expectativas.</div>
<div style="text-align: justify;">
Vagava pela rua e concluia, a cada vez, que realmente nada tinha de importante, não significava nada para ninguém; foi encontrada então pela Baronesa, com seu coque louro e sua pele perfeitamente maquiada, que lhe disse "como, meu bem, pode estar aqui vagando nesta rua e vendendo-se por tão pouco sendo tão linda, você virá comigo"</div>
<div style="text-align: justify;">
Tal frase lhe fez recuperar o sentido de que tinha alguma importância, de que representava algo e, por isto, a seguiu sem se importar para onde. Mal sabia ela que a Baronesa era mais cruel e humilhante que a rua, mas talvez por àquela epifânia nuncaa tenha se queixado de qualquer de suas humilhações e de ser oferecida a homens como um pedaço de carne em um mercado. </div>
<div style="text-align: justify;">
Estava, contudo convencida, é sim possível enganar tanto uma pessoa e, mais que isto, é possível brincar com os sentimentos dos outros transformando-as em lixo. Ainda estava convencida de que agora era de verdade um nada, mas então por que continuava? Se já tinha conseguido dinheiro suficiente para ter sua liberdade? Por que apesar de toda dor que uma pessoa pode nos causar continuamos, não tornamos peremptas as situações? Não as tornamos proscritas de nosso mundo? Será mera falta de coragem, ou talvez o medo de ter que novamente se encontrar consigo?</div>
<div style="text-align: justify;">
Gabriela chorava a cada fim de noite pensando nestas coisas e se culpando por ser tão fraca, tão incapaz de pôr um fim nisto. Seu coração se revoltava e seu sorriso, que antes e depois estava sempre prestes a aparecer, sumia como se levado pelo vento. Tentava em vão arranjar respostas. Mas, leitor, não se tratava de medo ou covardia mas de um sentimento, muito natural, de consolidação dos significados em nossa vida. Tal consolidação impõe que sempre vejamos um quadro como já o vimos antes ou encontremos formas parecidas com aquelas que já conhecemos e a elas nos restrinjamos. </div>
<div style="text-align: justify;">
Por que não estabilizar a vida é viver do mistério e quem, hoje, tem estrutura suficiente para aguentar a todo tempo o medo do que a vida pode nos oferecer e ver em cada nuvem uma nova forma, ainda não vista, em cada estrela um brilho novo e diferente? Quem de bom grado poderia admitir que sua vida pode se transformar em um simples segundo? </div>Paulo Victorhttp://www.blogger.com/profile/10168586030950559835noreply@blogger.com0