sexta-feira, 6 de maio de 2011

Uma Decisão.

Uma decisão, meu bem, é disto que precisamos. Com empáfia e ternura seu salto agulha caminhou em direção a porta. E este foi o desfecho de um momento que, por assim dizer, me fez cair. Sempre uma decisão, sempre um julgamento. É disto que se trata a vida e disto também se tratava nossa epifania. Não era de espantar que aquela frase dita em um tom tão seremo e lépido tivesse mais significado que muitos gritos. Disto se trata uma mulher, ternura quando tudo que podemos ver é...não sei, talvez, desespero.

Assim cantaram inúmeros poetas e músicos brasileiros. São elas que nos regem, são elas que nos colocam em um caminho e nos dão algum sentido. Ainda parou umi instante de frente à porta, talvez esperando que eu evitasse sua saída. Não, não era definitiva, mas sim era definitória. Diria, segundo o modo como ela pensava, o que ela queria e mais profundamente quem eu era na visão dela. Mas como podia eu fazer algo se nem eu mesmo sabia? Como podia? Digam?

Os cabelos pretos e pesados balançaram ainda uma última vez, como quem de soslaio olha com desdém. Mas sabem o desdém é a pior das crueldades que se pode fazer a um ser humano. Trata-se de rebaixá-lo a nada, de não reconhecer sua existência no mundo como um ser, um sujeito. Que poderia haver de pior? Não o desejo para ninguém.

E, ainda, mais uma vez ecoaram as palavras ditas “uma decisão”. Sim, elas foram o que me fizeram parar e pensar neste momento, no que eu deveria decidir, em que tipo de decisão nós fazemos todos os dias, revelando a todo momento quem somos. Ela tinha razão, não por afirmar que precisávamos de uma decisão, mas por me fazer pensar que esta mesma decisão diria, em última instância, quem eu era naquele momento.

Mas não, ainda uma vez não, me nego!  Me nego  peremptóriamente a tomar qualquer decisão! Exijo a suspensão do juízo! Exijo! Demando! E ele, cruel, me responde não posso ser suspenso. Não há outro lugar que não em mim, eu sou todo seu e a mim você pertence. Então a porta abriu e, ainda uma vez, um instante se passou, continuei na minha guerra contra os juízos, enquanto ela se foi...

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