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terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

O narrador

Existem três seres que são tão importantes às histórias e falsificações que contamos a fim de ver quadros enxutos de nossa existência sairem pálidos de nosso sersão eles: os personagens, o escritor e ele o narrador. Percebam que eu diferenciei o narrador do escritor este é o senhor da história de onde todos os quadros saem enquanto aquele é somente o arauto, o bardo, que conta a história; este sabe toda a história mesmo que numa percepção iterativa enquanto aquele só a toma conhecimento na medida de uma consciência que se forma racionalmente.
O narrador é fiel ao escritor, o único fiel, pois não poderia não sê-lo está adstrito à capacidade de racionalizar a vida e a existência dos personagens daquele. Nele falta, ainda, um pouco da palidez e sobra um resto de vida, uma existência autônoma que serve de médium para a pálidez que deve se instaurar nas angústias que se materializa nos personagens.
Deixe-me demorar, apenas um segundo, será que ainda posso ficar aqui preso nesta idéia de que o narrador é um médium? Será que se é assim não brilha em si já um tanto do exagero e da falsificação dos personagens nele, e como um catalisador ele é tomado pela reação química que transforma os personagens em plasmas que se desprendem do escritor? Ahhh mas quantas dúvidas sobram em mim agora, o quanto das percepções internas de cada personagem exagerado, falso, mentiroso e velhaco é de direito do narrador? Nenhuma provavelmente.
A impaciência me toma agora, então, sigamos em frente pois já não sei mais quem sou; nesta dialética infernal divido-me em tantos que a verdade está tão longe de mim e estes personagens riem face a minha própria existência, o pouco de vida que eu empresto ao narrador para que ele arranque de mim as angústias transformando-as em personagens é o suficiente para que, como num sonho, estes velhacos escarneçam da minha existência que lhes empresto; e agora já não posso mais lhe dizer quem sou. 
Desvio-me por estas sendas, inevitávelmente, não me encontro mais neste ser mas agora sou muitos enquanto sou um só e a inefabilidade do narrador já se mostra, pois somente este é o senhor da reação alquímica que poderá dividir minha vida em muitas e ver nela camadas e também destruir toda esta peça que se constrói a minha volta para que eu possa ser novamente eu. Ahhh narrador, sou eu ou sou você o guardião do sentido de minha existência? Me retire por favor deste desespero!

sábado, 31 de dezembro de 2011

O perigo

Neste dia em que termina o ano de 2011 parece ser adequado que depois de muita meditação possamos retornar à nossa busca pelo significado de casa mas, para isto, devemos primeiro recordar o que já aprendemos para a partir daí podermos seguir em frente. Senão vejamos: primeiro descobrimos que o conhecimento do sentido de casa, na espécie, responde a um apelo essencial e, justamente por isto, não está sujeito a platitudes; aprendemos ainda que tal sentido tende a se esconder e, por isto, teremos feito uma grande evolução se pudermos ao menos nos aproximar dele; por fim descobrimos que ele não pode ser revelado por uma platitude qualquer por que ele mesmo não é uma platitude qualquer.
Agora devemos, com a mesma paciência, entender claramente por que não se trata de uma platitude qualquer. Poderia dizer que o motivo de tal afirmação é que ele se encontra no plano da vida inalterável que se abre para nós por meio de imagens tecidas, mas mesmo isto seria uma repetição e, assim, uma platitude. Não, precisamos, devemos avançar! Mas como se ainda não encontramos qualquer critério capaz de nos aproximar deste apelo essencial? Devemos continuar procurando em Rilke enquanto paulatinamente nos afastamos de si.
O perigo se tornou mais seguro que a segurança. Esta é a afirmação de Rilke que segue àquela que iniciou nosso desafio e ela tem algumas coisas a nos mostrar. Ora, se as casas nada mais retém elas eram nossa segurança então, muito claramente, Rilke nos revela o que em um modo de ser determinado eram as casas: a segurança. Por outro lado, revela-nos também que elas deixaram de ser isto fazendo com que nosso trabalho não esteja terminado, pois precisamos descobrir do que elas se tratam hoje, no nosso modo de ser!
A afirmação também revela uma despotenciação da capacidade de cumprir tal função e uma valorização do perigo. Contudo, resta para nós, ainda impensado qual o sentido do perigo. Não sabemos, ainda, de que perigo o autor fala. Entretanto, podemos com certeza afirmar que este perigo por sua natureza se opõe à segurança que antes era oferecida pela casa. O que significa que este é um termo de nossa empreitada de importância capital posto que ele é o substituto desta segurança. Devo dizer, ainda, também não está suficientemente explicado do que se trata a segurança.
Mas nos atenhamos, neste momento, ao perigo por que este é o único termo de nosso caminhar que em seu significado está em consonância com o modo de ser de nosso tempo. Por isto descobrir por que ele se tornou mais seguro nos levará na direção da descoberta de qual o sentido original da segurança. Assim descobriremos também o sentido verdadeiro da segurança que a casa representou um dia e, então, poderemos perguntar pelo seu atual sentido pois poderemos perguntar por que houve a despotenciação deste valor.

Amigos, nada ficou suficientemente claro mas não nos propomos a ser claros o suficiente mas rigorosos o suficiente e impetuosos o suficiente para avançar em direção à algum lugar onde nosso problema possa obter um termo aproximado. Assim, a meditação e a demora em cada uma de nossas conclusões serve para que possamos aos poucos nos adaptar com esta vida que se presenteia para nós cada vez que ousamos rasgar o véu das imagens que tecemos. Feliz ano novo, que este pequeno escrito possa incitar o pensamento de vocês sobre quais os motivos pelos quais a segurança fugiu das casas! Abraços.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

A visão de uma mulher

Interessante andar pela cidade e ver as histórias que elas nos contam, já tive ocasião de falar aqui das minhas observações feitas de dentro do ônibus. A cultura não é um privilégio, embora o seja em algum sentido, mas uma necessidade da humanidade. Instruir-se, sabe-se bem, é uma necessidade do espírito que pretende seguir a caminhada em direção ao infinito.
Seguia voltando de uma consulta média quando me deparei com uma cena interessante. Uma mulher, negra, de compleição robusta e cabelos prateados, com seus olhos enegrecidos pelo sofrimento incessante a que é submetido nosso povo e suas tralhas, lixos, que a seus olhos, muito provavelmente tratavam-se de tesouros estava sentada em um canteiro no meio a Av. Presidente Vargas, próximo à central.
Temos mesmo muitos e muitos rostos, mas esta mulher era daquelas que parecia, apesar de sua feição sofrega, não ter ontem ou amanhã. Mantinha se sem qualquer feição que interessasse, ou mesmo, qualquer vida que interessasse. A final quem se interessaria pela vida de um ser deste, um ser sem qualquer significância que carrega lixos como tesouros?
Toda vida é matéria para a escrita, mas quem e o que é matéria para leitura? Existe um filósofo que escreveu um livro para todos e para ninguém. Já disse que toda humanidade busca a instrução, busca entender seu caminhar. Isto não significa que toda a humanidade tenha o mesmo entendimento ou, sequer, as mesmas oportunidades.
Ver aquele face sem rosto, sem significado emsimesmada com os olhos presos em um livro me fez pensar na necessidade e no prazer da leitura, que é um que me toma, mas a mim, perdão o preconceito talvez, seria algo normal no nosso mundo de ver pois, felizmente sou nascido e criado de uma condição econômica razoável, mas aquele ser, sem ontem ou amanhã, se dedicar com tanto afinco ao entendimento é algo extraordinário.
É de fato a revelação de que, não importa a condição de vida em que sejamos colocados, todos temos o direito e o dever de nos instruirmos e buscarmos evoluir, pois não importa o quanto o mundo tenha tentado tirar sua humanidade, ela a conserva como condição essencial para sua existência e confirma isto retirando-se deste mundo em direção a mundos superiores.
A vida não é privilégio dos que tem dinheiro, bem como a cultura também não o é, não importa o que digam ou façam, tratam-se de patrimônios humanos, do modo de ser a que chamamos homem. Me encheu de profunda felicidade tal visão, pois que importa o ontem ou o amanhã, quando um rosto retira-se do sofrimento em direção a sua própria paz? 

domingo, 11 de dezembro de 2011

Uma história sobre a condição humana

As hostes das religiões, filosofias e todo tipo de conhecimento que busca desvendar os mistérios do mundo, a imortalidade da alma, nosso lugar no pós morte já disseram muito e se digladiaram sobre nosso destino e o sentido de nossa existência, então o que teria eu para falar sobre isto? É por isto que a história de José Abdias não é sobre o pós morte ou mesmo a apologia a uma religião, mas sim uma história sobre a condição humana.
A peculiaridade de nosso protagonista estar agora morto talvez seja menos importante do que contarei a vocês hoje. Como sabemos José Abdias começou seus dias encarcerado, mas onde estava não se parecia em nada com uma prisão mas sim com um grande deserto, um lugar ermo e humido onde não existe luz e tudo que se ouve são lamúrios, gritos e choros. Em suma um lugar terrível em que o encarceramento consistia principalmente na presença dos outros e na liberdade para procurar um caminho, que sequer sabia onde poderia estar. Como bem sabemos, depois de ter sido encarcerado ali por culpa daqueles que tentou servir, não poderia mais confiar nas poucas centelhas de luz que lhe apareciam ou, mesmo, em qualquer outro. 
Ocorre que suas palavras continuaram servindo aos lamuriosos daquele lugar, afinal era melhor consolá-los do que continuar a escutar aqueles choros. Encontrou-se, então, com um homem de compleição saudável e não se lamentava ou fazia qualquer das extravagâncias que seus outros companheiros faziam. Durante dias observou o comportamento taciturno deste homem que tinha uma aparência tranquila, conformada. Tal homem mantinha-se sempre sentado em uma pedra alheio a todos aqueles problemas, como quem tivesse a certeza de que sairia daquele lugar, de que não havia por que se incomodar. 
José Abdias depois de muito pensar e se irritar com tal atitude aparentemente pacata resolveu interpelar o homem sobre por que ele não fazia o que os outros faziam e por que não tentava fugir daquele lugar. Aquela atitude raivosa de José fez o homem velhaco perguntá-lo, escarnecido, "o que esperas deste lugar? Onde pensa que está?" José corou e o homem continuou "não há nada que possa fazer, não há para onde fugir estes a quem você pretende consolar não estão embusca de consolo. O que resta é esperar."
Aquilo foi tão violento na mente de José que se retirou imediatamente da presença do homem como se fosse uma criança que havia feito algo errado. Pôs-se, então em solidão e começou a pensar no que o homem havia dito, mas não podia se conformar que não houvesse o que fazer, tinha de haver algo, mas o que? O que pode ser feito no desespero, caro leitor? Nada pode ser feito com a mente fechada em si mesma e desesperada, não é possível tomar as  rédeas de seus problemas se não puser a cabeça no lugar e tiver a tranquilidade de mansamente esperar que alguma solução se abrir em sua mente.
Não se trata de conformismo mas de abrir o espaço necessário para que o pensamento possa clarear e entender a natureza do problema e da condição que nos aflige, só então há qualquer possíbilidade de agir, pelo menos não com eficiência e temperança o suficiente para seguir em frente. Sim, José Abdias tinha que tomar as rédeas de sua atual condição, mas como fazê-lo sem entender tal condição? Sem saber por que ali está?

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

In a sentimental mood (II)


O som de Coltrane contrasta claramente com o som de Tatum, trazendo à evidência a reconstrução de que falei no outro dia. O minimalismo virtuoso de Coltrane nos aproxima fortemente de sensações indizíveis que só o jazz pode provocar, enquanto o som de Tatum pode ser traduzido sem maiores dificuldades em uma apoteose da reinvenção. Assim, enquanto em Coltrane a música se aproxima daquelas percepções iterativas que não podem ser descritas, o som de Tatum se resolve num estado de aproximação com o viver, em sua ptraticidade.
Este texto é uma pulsão para dizer sobre aquilo que as palavras não podem dizer. Mas quanta contradição numa mesma frase!!!!! O título da canção nos auxilia, "in a sentimental mood" significa em português em um humor sentimental. Quem poderia dizer que tal canção não nos transmite tal sentimentalismo, uma disposição para um protrair-se numa condição nostálgica. Assim, duas constatações se fazem imprescindíveis: a primeira é que a música independente das palavras nos desperta sensações e a segunda é que nós somos incapazes de acessar tais sensações sem as palavras.
No primeiro caso é importante ressaltar que não é a música que está a nossa disposição mas sim nós estamos a sua. Neste sentido uma lição valiosa nos é passada, qual seja o mundo não é nosso enquanto propriedade mas sim enquanto um fazer parte de algo. Por isto, independente de nosso querer somos afetados por ele e dele se desenvolve nosso modo de ser por inúmeras sensações das quais sequer podemos ter idéia, vez que como disse só podemos acessá-las com palavras enquanto é necessário muito mais que palavras para acessar o mundo.
Neste diapasão o silêncio das palavras abre o espaço para o existir apropriador da música e de toda forma de influência sensorial que nos revela o apelo essencial do mundo como ele é. Contudo, como a segunda conclusão é de que só podemos acessar o mundo através das descrições que fazemos com palavras conclui-se que esta essencialidade esconde-se por trás das palavras. Estas, por sua vez, fazem o mundo parecer sempre com as limitações perceptivas que temos.
Por fim, isto não significa que de alguma forma não acessamos o mundo pela música de Coltrane ou Tatum mas que somos incapazes de descrever tal acesso fazendo destes mais uma afetividade que se protrai em nosso existir e influencia nosso modo de ser sem que possamos ter a capacidade de saber, ao certo, qual a influência efetiva deste tipo de estimulo em nossas vidas. Assim, é por direito concluir que no silêncio das palavras ainda há um mundo novo a ser descoberto.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

In a sentimental mood


Redescobrir o Art Tatum foi uma surpresa feliz, como se redescobrisse uma vida de pequenos gestos, lentos gestos, uma vida feita para apreciar, para o ócio. Não entendo, como técnico de jazz, mas sou um apreciador das descobertas feitas por este estilo e da sua incrível capacidade de se reinventar, de fazer novas perguntas quando parecem que todas as respostas já foram dadas.
O Tatum e, como exemplo, "in a sentimental mood", tem uma capacidade de reconstruir standards e fazer deles uma produção completamente nova sem que esta perca sua capacidade de emocionar de nos fazer sentir acolhidos e próximos de algo assim como uma Divindade. Não é a toa que quando este pianista entrava nos lugares para tocar seus colegas afirmavam "God is Here", ou seja, Deus está aqui.
Nas reconstruções que Tatum fez dos standards tem, é claro, uma grande lição para a vida qual seja é indispensável ter olhos, mentes, corações abertos para reinventar. Estar pronto para recomeçar do ponto onde começamos mostra a disposição honesta para um viver que prescinde de resposta mas exige desafios, exige muito tato e coragem. 
Tatum é um exemplo que a arte, irmã da filosofia, tem muito a nos dizer sobre o viver sobre nossa capacidade de enfrentar os problemas com sobriedade e paz; e necessidade de enfrentar os problemas com mãos de homens e não com patas de rã. Laçar os desafios e segurá-los firme, para desconstruir cada um de nossos conceitos e criar novos.
A arte, na espécie, de Tatum denota também que há algo de belo, talvez indescritível para sua irmã, na capacidade que os homens tem, embora nela não creiam, de reconstruir a verdade de olhar o mundo de outro modo quando aquele que está instaurado, cicatrizado, não mais nos agrada. Ahhh que grande poder este, de fazer de novo surgir o verdadeiro, o essencial.
Se esta é uma capacidade de que fomos dotados é nosso dever escutar seu chamado e não há por que ter vergonha ou medo de construir uma nova vida, uma nova arte, uma nova filosofia ou qualquer coisa que não mais seja capaz de completar o sentido para nosso existir. Este sentido prescinde de uma única verdade e nos permite chegar a diversos lugares de acordo com o caminho que escolhamos para nossa vida.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Casa (II)

Se, talvez, mesmo que por cinco minutos vocês tiverem se dado ao trabalho de pensar sobre o critério que poderia responder ao chamado pela aproximação do apelo essencial sobre o significado da casa, muito provavelmente se depararam com a mesma angústia que eu, ou seja, de não encontrar um critério seguro apto a nos aproximar do que pode ser este significado. 
Isto ocorre por que os significados revelam seu modo de ser muito facilmente, mas a aproximação de um apelo essencial é algo extremamente difícil de ocorrer. Assim, falamos platitudes com ares de verdade a todo tempo sem sequer sermos capazes de nos aproximar de algo que possa responder as nossas angústias, verdadeiramente, isto quer dizer, no seu sentido mais próprio. Então ocorre para nós um convite a pensar por que isto ocorre, mas mantenhamos nosso foco. Precisamos descobrir o que representa no modo de ser deste tempo a casa, pois só então poderemos nos questionar sobre por que nada mais ela retém, tudo lhe foge. 
O que devemos fazer então, agora que já descobrimos, pela nossa reflexão, que há tantas definições do que seja a nossa casa quantos homens e qualquer delas é suficientemente segurar para responder a este chamado? Talvez desistir, mas como se declina à um convite? Com educação, pensando conosco que talvez sequer importe nada disto? Antes de desistir, contudo, devemos pensar se é possível que isto importe em alguma coisa. Ahhh mas que angústia parecem que no pensar nossos problemas só crescem, pois como vamos descobrir a importância de algo que não sabemos, e nem temos a certeza de que poderemos saber, do que se trata?
Ora, a única resposta que me ocorre para tais problemas está, ainda, presa a Rilke, de quem inevitávelmente nos libertaremos se seguirmos no caminho deste chamado. Se desistirmos agora nada mais estaremos fazendo do que "reprimir, em si mesmas, a vida inalterável que, nessas imagens tecidas, está radiantemente aberta em sua infinita indizibilidade."
Entendam, a interpretação enquanto apropriação não nos exige a literalidade do que o autor quis dizer, então por enquanto não se prendam ao tema do texto, mas tentemos entender duas coisas: as imagens tecidas e a infinita indizibilidade. Achei desnecessário explicar que cada mente teceria uma imagem sobre o sentido de sua casa, mas esta imagem guarda alguma semelhança, que tentamos descobrir, com a vida inalterável (não no sentido estanque, mas do apelo essencial sobre o significado de um determinado conceito aplicado ao modo de ser de um tempo, neste caso, a idéia de casa)
Por fim, este texto tentou demonstrar o quanto apesar de aberto o significado do conceito que buscamos ele não é qualquer platitude que possamos pensar no dia a dia, mas sim algo infinitamente indizível, do qual somente poderemos nos aproximar se levarmos a sério a empreitada de descobrir, seu significado. Isto por que ele se reprime nestas imagens tecidas. Contudo, não pensem que esta longa explanação foi em vão, pois primeiramente descobrimos que encontrar respostas para nossos problemas não é tarefa de um minuto; descobrimos, ainda, que é importante por que trata-se da nossa vida; descobrimos que é indizível este sentido, então diminuimos nossas expectativas em relação à verdade. 

Assim, meus caros, avante devemos continuar lutando contra este dragão e ver aonde o caminho que seguimos poderá nos levar. Qual será o limite de nossas descobertas? Caminhar é mais importante do que descobrir a verdade então o convite mantém-se, que tal refletir sobre nossas descobertas. Talvez agora com mais clareza possamos levar mais a sério e com mais realismo nossa empreitada. Abraços

terça-feira, 22 de novembro de 2011

As afro-poesias

A começar devo fazer uma errata, este texto deveria ter sido públicado no dia 20 mas sabem bem como anda minha mente, cheia de novas palavras por serem ditas e pensamentos indizíveis.

Por estes dias a poesia tornou-se forma de oração e deixei, pela primeira vez o eurocentrismo de lado para falar das entidades e dos mitos afrobrasileiros. Ahh quanta tragédia há ali, quantos oráculos. O nome afro-poesias, é claro, uma homenagem ao poetinha e seus afro-sambas, mas oxalá, pudesse eu ter seu brilhantismo ou ser tomado por um gênio.
As homenagens que me renderam aos Orixás e guardiões são, é claro, um convite. Um convite a esta terra desconhecida e tomada de tanto preconceito que é a cultura afrobrasileira. A quanto esperávamos o renascimento da tragédia? E ele teve de ocorrer justamente aqui em nosso País, saravá mais uma benção a este povo.
Mas quê, tragédia? Sim, foi ela quem renasceu para nos contar da simplicidade e da humildade com que entes de luz faziam sua magia e, com isto, voltar a diferenciar o sacrilégio do pecado. Ora enquanto o primeiro é um ato dos homens tomados na relação de buscar a si próprios e conectar-se com o mundo, o segundo é um ascetismo venal voltado à relacionar-se com o inexistente, ou seja, um Deus antropormorfizado. 
As afro-poesias nos lembram do lenitivo que é poder contar com conforto e da punição por tentar desconcatenar o fio que os deuses traçaram. Em todas elas verás entidades cheias de ensinamentos acerca daquilo que ama se esconder: a verdade; em todas elas se aproximará da inexistência da distância entre o bem e o mal, e seu livre trânsito em nossos corações. 
É disto que se trata o sacrilégio do furto das possibilidades vitais, do desejo de chegar ao cerne de todas as coisas, em suma, de interiorizar-se. Ora, se pensarmos bem, o que mais precisava o povo brasileiro do que interiorização? Não se trata aqui de mera apologia ao culto, mas de constatar o renascimento de uma esperança, a esperança que mais uma vez possamos ser homens, Assim como Xangô que por vaidade provocou uma tragédia sobre sua vila ou, por amor, roubou a mulher de Ogum, será amigos isto não te lembra o Édipo ou Paris? 
Então diga-me que aceitas, diga-me que o convite a ler as afropoesias estas rústicas formas de oração poderá retirar-lhe do mundo do sonho virginal e colocar-lhe dançando entre os Ogãs. Por que, desde que, nos dispamos de todo preconceito temos, nós também, uma mitologia linda pra contar. Quantos bardos serão necessários para que ela possa ser contada? Quanto será necessário para que a tragédia possa renascer daqueles que foram seus braços acolhedores, ou nem tanto? 
 Se viajarem sobre os pequenos elementos de magia e perceberão a cultura negra soltando seu fogo, vento, agua e terra para transformar novamente o mundo em magia e reencantar nossa vida com os ensinamentos simples que vêm das histórias sofridas e das vidas de Orixás e Exús, que assim como os deuses do Olimpo, tem seu descanso em Aruanda, mas vivem entre nós para que na tragédia possamos tornar outra vez a sermos homens.

Salve a cultura negra, saravá nosso povo, nossa terra e todo lenitivo que nos faz aceitar as tragédias diárias das mazelas sociais sem desistir, assim como este povo de Aruanda.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Casa

"Esta é a época em que tudo foge das casas, elas não conseguem mais reter nada", fiquei parado durante pelo menos uns quinze minutos nesta frase do Rilke, devo dizer um autor que me surpreendeu positivamente. Não sei bem se trata-se de unm mero sentimentalismo, devido a minha vida, ou se ela me fez um apelo essencial sobre o nosso modo de ser, o modo de ser do nosso tempo. Prefiro acreditar nos dois e, por isto, divagar um pouco sobre o que talvez seja este apelo essencial.
Três palavras incitam nesta frase, a primeira é tudo; a segunda foge e a terceira reter. Embora pareça claro o tudo que foge não se retém permanece indefinido o sentido de uma quarta, qual seja casa. Assim, para que possamos descobrir o que é este tudo que foge e que não pode ser retido é indispensável entender o que é a nossa casa. Mas talvez esta pergunta seja aquela que não pode ser respondida, pelo menos não com palavras. Isto, contudo, não pode nos impedir de tentar nos aproximar disto
Aqui nos encontramos com um problema, se não podemos apelar diretamente as palavras para encontrar este sentido de casa por onde poderíamos começar? Vejo duas opções, finalizar este texto apelando para a percepção de cada um e manter a indeterminação do sentido ou seguir o apelo que o autor nos faz procurando o sentido a partir daquilo que podemos falar, se pudermos não encontrar a determinação mas pelo menos nos aproximar dele estaremos mais aptos a falar de todo o resto.
O que podemos dizer, com alguma certeza, sobre a casa. Isto não parece também vir em nosso auxílio, por que há tantas definições que escolher uma seria meramente um ato arbitrário de nossa parte, e devido a seriedade do assunto não podemos nos dar ao luxo de nos permitirmos qualquer platitude. Deveremos buscar então outros critérios que possam vir ao nosso auxílio.

Contudo, pelo menos por enquanto, vamos nos dar tempo para pensar que critérios poderiam ser estes. Isto por que se por um lado a indeterminação não pode responder nossas angústias talvez nossas angústias possam falar mais alto em busca de um critério e, então, a arbitrariedade, como mero acaso, possa nos colocar no caminho.

terça-feira, 5 de julho de 2011

A vida que vai a deriva...

Os caminhos se cruzaram, fez as naus de suas dores e alegrias tornarem-se uma só mas o mar encontrava-se revolto e seu destino tornou-se um vagar em direção a lugar nenhum. Meus caros leitores, o horizonte se apagou se desfez sem que tais naus percebessem que foram elas mesmo, não a cerração que apagou o horizonte. Saibam nada existe de mais angustiante do que o vagar perdido, mas saibam também este é um estado intermediário.

Eles não o sabiam e para descobrirem, sofreram, choraram, gritaram e na impossibilidade de abrir os olhos, mantiveram-se juntos. Não há nada mais difícil do que trocar as lentes de um óculos, não a nada mais impossível do que enxergar àquilo que não se quer ver.

Mas, as naus da vida, foram feitas para caminhar sozinha e isto de tal modo que era inevitável o fim daquela deriva sob pena de ir a pique sua própria vida. Ahhh que escolha difícil, ir-se, separar-se ou ter que enfrentar o caráter doloroso de nossa existência? Somente os espíritos com muitas forças, muita clareza de sua contradição podem, diante de tal condição, assumir um amor incondicional à vida e, conseqüentemente, hastear as velas em um rumo.

Mas que rumo? Quem dá este rumo? Ninguém meus caros é a própria presentação de nossa vida que pode fazer nossa memória aviar-se. Mas quanta dor, quanto sacrifício. Saibam, a verdade, faltam em nossos tempos espíritos dispostos a fazer tais sacrifícios obstinadamente, faltam espíritos dispostos a voltarem se para si e ser seu próprio destino.

A vida leitores, sempre vai à deriva, não se deixem levar por ela. É indispensável aceitar a luta eterna em que estamos engendrados e, com isto, assumir nossa condição. Cunhar para nós nosso próprio destino. A nossa nau navega num fluido onde não há qualquer coisa onde possamos nos esconder, sem nos afundar. As luzes do farol estão sempre apagadas e, por mais custoso que isto nos seja, somos nós que devemos acendê-las.

Também não se enganem com este texto mórbido e taciturno, há muitas promessas para todos àqueles que se aventuram neste mar e ousam enxergar um horizonte riscado à lápis nº 2, há a promessa da plenitude de nossa existência que só nós podemos conseguir. Infelizmente ou, ainda, felizmente somos nós que fazemos nosso futuro e colocamos nossa não na rota da evolução de nossos espíritos.

sábado, 18 de junho de 2011

Travessia

Certa vez ouvi

Escuta o que um um velho diz:

os dias e as noites seguem

mas não seguem pra ser feliz.

 

Eles são um só alento

para aqueles que caminham

ao relento, nesta travessia

que chamam viver.

 

Neles a chama brilha,

o negrume cintila;

neles a dúvida paira,

e a certeza baila.

 

Orientando a travessia,

o caminho indicam,

pro homem e pro menino

somente mostram o que

preparados estão para ver.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

O Ciume

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O que é o ciume? Esta é uma pergunta que dificilmente nós fazemos, embora estejamos sempre falando dele e emitindo considerações sobre sua natureza, falta um pouco de consideração e reflexão sobre sua realidade efetiva. Talvez esta seja uma exigência impossível de ser cumprida pois nossa natureza não é dada ao pensamento essencial das coisas mas as expressões imediatas de seus efeitos em nossa vida objetiva.

A borboleta veio e pousou sobre suas mãos tinha belas asas negras com pintas brancas, o contraste era inevitável, aquelas mãos macias e alvas como a neve destoavam por completo daquele negro sepulcral. Sentada na grama de um parque qualquer ela esperava pelo seu amor, haviam marcado às 15.30 daquele sábado; ainda assim ela esperava ali, sozinha, mesmo depois de 15 minutos. Buscava enganar-se sobre sua chegada, acreditando que ele ainda viria.

O dia, apesar de ensolarado, não era particularmente quente e as lufadas de ar que batiam sobre seu rosto meigo e de feições finas faziam esvoaçar os longos cabelos ruivos e dilatar as pupilas dos olhos azuis acinzentados. Não era o clima que era incômodo, mas sim, a espera. Cantarolava música s que lhe vinham aleatoriamente a cabeça como que pra disfarçar que olhava de minuto em minuto as horas e, ainda, que os pensamentos mais nefastos lhe vinham a cabeça.

Aturdida com o atraso de 20 minutos, agora, imaginava o que havia o prendido, por que ele estava fazendo isto com ela, que tanto lhe amava. Em última instância tinha em si a certeza da outra! Sim, sabia que o que lhe mantivera apartado de seu verdadeiro amor era algum tipo de aventura, talvez promíscua, que lhe parecera mais interessante então pensava “Ahhh que homem-menino eu fiz de minha metade não sabe, ainda, que valor tem o meu amor!”

Mas logo este pensamento terno transformou-se em irascível. O fantasma da outra tomou-lhe conta, sua confiança em seus instintos não mais permitia-lhe afastar esta hipótese, afinal era logicamente fundada. SÓ poderia ter outra! Não havia trânsito, problemas familiares, ou de qualquer sorte que o faria se afastar dela, somente a outra! Não podia crer em qualquer outra coisa, posto que esta era uma verdade clara.

Então chegou, com flores e bombons, no melhor estilo retrô com um sorriso no rosto e todo seu amor. Antes que pudesse explicar qualquer coisa viu uma pequena ficura alva levantar, chorando, desesperada, e começar a gritar: “Por que fez isto comigo? Seu canalha, você jogou fora tudo que tínhamos! Traidor, dei-te meu coração e é isto que você me dá, um chifre? Você não presta para nada só me faz sofrer. Me conte quem é a vagabunda que te fez se atrasar meia hora!”

E ele permaneceu passivo, sem saber o que dizer. Tentou argumentar que não havia outra, que a amava, mas nada pareceu convencê-la. Então foi embora, com lágrimas nos olhos. Seu atraso tinha decorrido da busca incessante pelos presentes que trazia na mão e a aliança que trazia no bolso.

O ciume tudo destrói é preciso confiança e lealdade para que qualquer coisa possa dar certo. O ciume cria fantasmas que são tão reais que atormentam nossa cabeça e nos fazem nos perder. Contudo, o ciume não é sintoma de amor mas do modo de ser de um tempo onde as pessoas são propriedades umas das outras. O amor é aquele que deixa ser, que respeita seu espaço e sua pessoa, que confia incondicionalmente, por que mais do que uma paixão da alma é um estado compassivo, ou seja, de sentir o que o outro sente.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Uma história sobre a memória

Assim, de repente, não mais que de repente, ela se foi. Não houve acidente, foi puro acaso como uma mera brincadeira de criança. Ela se foi e o deixou na sarjeta, tirou sua vida e todo o sentido que poderia ter, pois, com ela sumiram também todos os significados, amigos, família e tudo o mais. Será que você, leitor, pode imaginar o que significa acordar perdido, sem norte, sem rumo, sem prumo? Será que pode, sequer de relance, entender?

No início seus amigos e familiares acharam que era só um gracejo, que era uma aventura, que, dada a sua idade, era normal querer algo mais da vida e, era até saudável, fazer de cada dia uma nova aventura. Contudo, logo ficou penoso e enfadonho ter que aguentar toda aquela falta de sentido, a perda dos significados que tanto lhe eram caros, de seus valores. Não restava outra saída senão abandoná-lo.

Então restou só, náufrago, à deriva, preso a um personagem. Tudo que lhe restou foi um personagem e, com ele, surgiu lépido inebriante, garboso, ele, o alcoolismo. Ora, que solução melhor para quem só tem em si a agonia de viver uma eterna representação? Pelo menos este orgulhoso companheiro permitia-lhe alternar os personagens para tantos quantos ele quisesse, ou melhor, tantos quantos sua imaginação pudesse lhe prover.

A imaginação, saiba caro leitor, difere fundamentalmente do entendimento por que este é produzido só pelos significados que podemos agregar enquanto aquela pode ser produzida apesar de qualquer significado imediato. Quero dizer a imaginação não precisa de qualquer outra coisa do que o próprio experimentar do mundo enquanto o entendimento precisa algo a mais do que isto é preciso compreender algo como sendo este algo, ou seja, é preciso que este algo signifique alguma coisa. Ahhh mas que inefável companheira passou a lhe ser útil, abrindo-lhe portas permitindo que fosse quem quisesse ser independente de qualquer coisa, sem vínculos.

Bom, o que importa, de fato, é que como um acidente ela se foi como um acidente ela voltou. Assim, o que um dia se desviou voltou a aviar-se, fétida, lúgubre, com o dedo em riste apontando para si. Sim, ela voltou provocando culpa, como se houvesse um ato de vontade que a fez se desviar. Sua memória, toda a possibilidade de sentido para a sua vida, abria-lhe de novo as portas não sem cobrar um preço.

Ao olhar no espelho não mais era capaz de ver aqueles personagens que antes lhe amoleciam a agonia do errar constante, mas sim as marcas e as rugas deixadas pelo envelhecimento causado pelo abuso do álcool. Ao olhar para o lado não havia mais companheira senão a solidão. Sua memória havia regressado, sim, como se nunca houvera partido, sim, mas tudo que ela trouxe de volta foi o sofrimento. Salvo pela possibilidade sempre radiante de cunhar novos significados para sua vida, se pensa que isto é pouco ou que não vale a pena tente ficar um dia sem a sua memória.

sábado, 21 de maio de 2011

Depois do começo... o que vier vai começar a ser o fim

Entre 78/87 no Brasil ocorreu uma efusividade artistica e política que, por assim dizer, pode se chamar de trágica. O trágico é aquele momento em as potências em jogo recolocam numa situação em que o velho precisa ser destruído e o novo criado. Nestes momentos surgem vontades que revelam potências em disputa, tais vontades manifestam-se sempre por meio de um eu que expressa um novo modelo estruturador da realidade.

Assim, Renato Russo e sua Legião embalaram os sonhos e as esperanças de toda uma juventude que ansiava por este acontecer que teve seu ápice em 1988, com a constituinte, foram centenas de emendas populares. Nelas materializou-se a decadência da potência que inspirava o sentido trágico da rebeldia, nela ocorreu a síntese possível dos novos princípios estruturadores que deveriam nortear a sociedade brasileira.

Quando tal momento chega a seu ápice retrai-se novamente aquilo que buscamos, a verdade, que só se revela como eterno movimento. Contudo, antes disto pode ser que alguns representantes desta vontade tenham a solidez, o cinismo e a malignidade de ver através da verdade; de produzir algo assim como esta música que deixo aí pra vocês. Revelando-nos que enquanto à buscamos, a verdade, mantém-se retraída e que já sempre imergimos nela enquanto seres humanos agregadores de sentido e significado para nossa própria existência. Enfim, que todo (e só) o vir-a-ser é a verdade em si mesma.

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Quando na minha infância esta canção sempre me causou curiosidade, ficava horas tentando singularmente, por versos, ou em gênero, pela música e seu contexto descobrir algo que fosse o fio de cobre amarrado no pescoço, o fio condutor que me explicaria o que deu na cabeça do Renato Russo pra escrever uma loucura destas.

Somente agora eu entendi o daimon que se apossou dele, o próprio emergir na verdade, no caos e na falta de sentido do mundo é que falou por meio de sua poesia. Este desvelar-se só é possível por um movimento que não se encontra em generalidades ou particularidades mas numa imersão na própria consciência, num despir de preconceitos. Por seu turno, este despir abre um novo mundo, um campo. Este é um locus onde se deixa tudo ser como é, ou seja, na sua própria dinâmica do vir-a-ser.

Pretensiosa? Sim, esta canção o é! Sabemos hoje que é pretensão demais que um eu possa dizer a verdade mas a seu modo e segundo suas vivências é possível alcançar algo assim como um relance, um imergir que desvela. Neste o “mundo verdadeiro” pode mostrar-se como realmente é, ou seja, como fábula da consciência. Mas este mesmo eu que deu voz ao falar da verdade, ao envio em que ela o destinou, pertence a ela, mesmo que não o saiba e, por isto, é de se esperar que em algum momento ele volte a encontrar-se e a ver algum sentido em seu significado.

Foi esta, certamente, a sensação que se apoderou de mim quando repentinamente me pus a pensar, voltando me para mim mesmo, no sentido de uma música que há muito eu havia esquecido, como um brinquedo que não tinha conseguido montar. Por tal desvelamento percebi também a criança interna que nunca esqueceu do jogo de buscar correspondência sem perceber que não há qualquer correspondência possível sem que aja um princípio estruturador que a estabeleça. Assim, não há qualquer verdade sem que se abra um campo onde o mundo possa se mostrar e na constituição de um suporte, de um eu, se fixe um princípio estruturador da realidade.

domingo, 8 de maio de 2011

O que falta a nosso tempo

Falta inocência, malignidade, egoísmo. Estas são as considerações de Nietzsche quais serão as nossas? O que falta a nosso tempo? Falta coragem, honestidade intelectual, filosofia. Falta-nos ser crianças e assumir, definitivamente, às rédeas de nosso destino. Falta convicção, o filósofo disse que não somos rãs pensantes, é exatamente isto que somos hoje! Rãs pensantes! Os problemas não nos interessam, ou só nos interessam. Já há muito esperamos pela redenção, mas tudo que vemos é a perda da capacidade de influênciar, é nossa identidade tornando-se cada vez mais ato-mística, não, não se trata de um erro. E mesmo não sendo um erro talvez seja exatamente esta mística este crer no sagrado da vida que falte a nós.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O falatório

Por que em busca do que não pode ser dito? O que não pode ser dito é o que conserva o vigor do primeiro, o que unifica. Este é o verdadeiro sentido de algo assim como Deus. Tudo o que é tocado pela palavra é tocado pelo mundo não mais é capaz de transcender, de levar aos céus. O falatório é o oposto do que silência, mas está exatamente na busca incessante por se expressar na ausculta de um apelo, o apelo daquele que nunca se deixa traduzir.  Daquele que mesmo desencoberto está sempre encoberto. Daquele que estamos sempre em busca de entender. Ou seja, dos nossos primeiros sentimentos e impressões.