segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

A visão de uma mulher

Interessante andar pela cidade e ver as histórias que elas nos contam, já tive ocasião de falar aqui das minhas observações feitas de dentro do ônibus. A cultura não é um privilégio, embora o seja em algum sentido, mas uma necessidade da humanidade. Instruir-se, sabe-se bem, é uma necessidade do espírito que pretende seguir a caminhada em direção ao infinito.
Seguia voltando de uma consulta média quando me deparei com uma cena interessante. Uma mulher, negra, de compleição robusta e cabelos prateados, com seus olhos enegrecidos pelo sofrimento incessante a que é submetido nosso povo e suas tralhas, lixos, que a seus olhos, muito provavelmente tratavam-se de tesouros estava sentada em um canteiro no meio a Av. Presidente Vargas, próximo à central.
Temos mesmo muitos e muitos rostos, mas esta mulher era daquelas que parecia, apesar de sua feição sofrega, não ter ontem ou amanhã. Mantinha se sem qualquer feição que interessasse, ou mesmo, qualquer vida que interessasse. A final quem se interessaria pela vida de um ser deste, um ser sem qualquer significância que carrega lixos como tesouros?
Toda vida é matéria para a escrita, mas quem e o que é matéria para leitura? Existe um filósofo que escreveu um livro para todos e para ninguém. Já disse que toda humanidade busca a instrução, busca entender seu caminhar. Isto não significa que toda a humanidade tenha o mesmo entendimento ou, sequer, as mesmas oportunidades.
Ver aquele face sem rosto, sem significado emsimesmada com os olhos presos em um livro me fez pensar na necessidade e no prazer da leitura, que é um que me toma, mas a mim, perdão o preconceito talvez, seria algo normal no nosso mundo de ver pois, felizmente sou nascido e criado de uma condição econômica razoável, mas aquele ser, sem ontem ou amanhã, se dedicar com tanto afinco ao entendimento é algo extraordinário.
É de fato a revelação de que, não importa a condição de vida em que sejamos colocados, todos temos o direito e o dever de nos instruirmos e buscarmos evoluir, pois não importa o quanto o mundo tenha tentado tirar sua humanidade, ela a conserva como condição essencial para sua existência e confirma isto retirando-se deste mundo em direção a mundos superiores.
A vida não é privilégio dos que tem dinheiro, bem como a cultura também não o é, não importa o que digam ou façam, tratam-se de patrimônios humanos, do modo de ser a que chamamos homem. Me encheu de profunda felicidade tal visão, pois que importa o ontem ou o amanhã, quando um rosto retira-se do sofrimento em direção a sua própria paz? 

Nenhum comentário: