quarta-feira, 1 de junho de 2011

O Ciume

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O que é o ciume? Esta é uma pergunta que dificilmente nós fazemos, embora estejamos sempre falando dele e emitindo considerações sobre sua natureza, falta um pouco de consideração e reflexão sobre sua realidade efetiva. Talvez esta seja uma exigência impossível de ser cumprida pois nossa natureza não é dada ao pensamento essencial das coisas mas as expressões imediatas de seus efeitos em nossa vida objetiva.

A borboleta veio e pousou sobre suas mãos tinha belas asas negras com pintas brancas, o contraste era inevitável, aquelas mãos macias e alvas como a neve destoavam por completo daquele negro sepulcral. Sentada na grama de um parque qualquer ela esperava pelo seu amor, haviam marcado às 15.30 daquele sábado; ainda assim ela esperava ali, sozinha, mesmo depois de 15 minutos. Buscava enganar-se sobre sua chegada, acreditando que ele ainda viria.

O dia, apesar de ensolarado, não era particularmente quente e as lufadas de ar que batiam sobre seu rosto meigo e de feições finas faziam esvoaçar os longos cabelos ruivos e dilatar as pupilas dos olhos azuis acinzentados. Não era o clima que era incômodo, mas sim, a espera. Cantarolava música s que lhe vinham aleatoriamente a cabeça como que pra disfarçar que olhava de minuto em minuto as horas e, ainda, que os pensamentos mais nefastos lhe vinham a cabeça.

Aturdida com o atraso de 20 minutos, agora, imaginava o que havia o prendido, por que ele estava fazendo isto com ela, que tanto lhe amava. Em última instância tinha em si a certeza da outra! Sim, sabia que o que lhe mantivera apartado de seu verdadeiro amor era algum tipo de aventura, talvez promíscua, que lhe parecera mais interessante então pensava “Ahhh que homem-menino eu fiz de minha metade não sabe, ainda, que valor tem o meu amor!”

Mas logo este pensamento terno transformou-se em irascível. O fantasma da outra tomou-lhe conta, sua confiança em seus instintos não mais permitia-lhe afastar esta hipótese, afinal era logicamente fundada. SÓ poderia ter outra! Não havia trânsito, problemas familiares, ou de qualquer sorte que o faria se afastar dela, somente a outra! Não podia crer em qualquer outra coisa, posto que esta era uma verdade clara.

Então chegou, com flores e bombons, no melhor estilo retrô com um sorriso no rosto e todo seu amor. Antes que pudesse explicar qualquer coisa viu uma pequena ficura alva levantar, chorando, desesperada, e começar a gritar: “Por que fez isto comigo? Seu canalha, você jogou fora tudo que tínhamos! Traidor, dei-te meu coração e é isto que você me dá, um chifre? Você não presta para nada só me faz sofrer. Me conte quem é a vagabunda que te fez se atrasar meia hora!”

E ele permaneceu passivo, sem saber o que dizer. Tentou argumentar que não havia outra, que a amava, mas nada pareceu convencê-la. Então foi embora, com lágrimas nos olhos. Seu atraso tinha decorrido da busca incessante pelos presentes que trazia na mão e a aliança que trazia no bolso.

O ciume tudo destrói é preciso confiança e lealdade para que qualquer coisa possa dar certo. O ciume cria fantasmas que são tão reais que atormentam nossa cabeça e nos fazem nos perder. Contudo, o ciume não é sintoma de amor mas do modo de ser de um tempo onde as pessoas são propriedades umas das outras. O amor é aquele que deixa ser, que respeita seu espaço e sua pessoa, que confia incondicionalmente, por que mais do que uma paixão da alma é um estado compassivo, ou seja, de sentir o que o outro sente.

Um comentário:

Anônimo disse...

Victor, é muito bom ver você se expressando e cada vez melhor. Gosto de ler o que você escreve, acho que hoje consigo te compreender... Vou deixar dos trechos maravilhosos para você:
"Olha só, que cara estranho que chegou Parece não achar lugar No corpo em que Deus lhe encarnou"
"É, morena, tá tudo bem
Sereno é quem tem
A paz de estar em par com Deus
Pode rir agora
Que o fio da maldade se enrola"