Me diz por que você não vai embora? Me diz, por que meu coração não bate mais como antes. Estas foram seus pensamentos, por que as palavras lhe faltaram, ao olhar para aquela figura, que só podia lhe infundir pena, com suas maçãs do rosto vermelhas e seus olhos verdes ainda mais vermelhos e seu rosto cheio de lágrimas gritos e sonhos desperdiçados.
O esquecimento é cruel. Mas o relembrar é ainda mais, já tive ocasião de falar disto aqui. Esquecer é um sintoma de plenitude da vida que pulsa e precisa que determinadas coisas vão embora para que outras possam vir. O Esquecimento é a falta de culpa ante toda malignidade que reina em nosso ser, por isto poucos de nós, devido ao cilício histórico lhe é capaz de prestar tributo.
Aquela imagem que o fez cometer tantos erros e sentir tanta dor, que lhe fez sair do prumo e perder todas as coisas que lhe eram mais caras certa vez voltou a seus olhos no trecho de uma música, num modo de chamar, num saber que só aqueles olhos verdes poderiam ter. Seu corpo realmente não lhe pertencia, só ela sabia compreender isto! Não lhe causou dor mas curiosidade, não sobre a pessoa, mas sobre o mundo.
Este é de fato curioso como pode apresentar-se num momento tão (in)oportuno a memória! É assim que as coisas são, o esquecimento é de fato cruel quando já se estabeleceu deixa-se ir por qualquer, mínimo, fato da vida que traga a cumplicidade de outrora. Isto é um teste à fidelidade restabelecida, não mais àqueles encantadores olhos verdes, cheios de verdade e decepção, mas para com ele com a vida que ele devolveu-lhe.
Novamente fazer vir a sua memória àquela imagem era sua prova, sua via crucis. Nada sentiu, já disse, nada. Salvo, talvez, um pouco de felicidade. Então me diz... por que? Me diz o que sobrou? Me diz um não, uma poesia! Este estar a caminho que retirou aquele desespero não o fazia feliz, não o fazia mais belo, mas o fazia mais pleno na certeza de que a compreensão é um fruto daquele que superou um longo e triste inverno em direção a uma nova primavera! Daquele que viu sua voz ser calada por uma desilusão mas reaprendeu a falar e a ver.
Me diz então o que faz aqui? Me diz agora o que importa hoje sua compreensão? Me diz agora por que fazer confissões de liquidificador? Me diz! Me diz! Me diz! Ahhh... mas elas importam elas definitivamente importam! Importam o direito que me concedes agora de enfim ser fiel, fiel ao seu esquecimento, este foi o motivo de sua felicidade! Tal projeção, da imagem que lhe ficou na mente, agora podia se completar com a certeza de que não importa o que foi dito ou feito simplesmente foi-se e uma nova primavera veio! Como virá uma outra que é fruto da vitória sobre este novo tempo de dificuldades por que passava!
Às vezes, só às vezes, relembrar o passado serve para mostrar que podemos sempre encontrar a hora feliz em que o esquecimento se fortalece e permite que uma nova primavera venha. Então como o sol é grato por permitirmos que ele nos aqueça, conforme afirma o Zaratustra, ele era grato por este sol numa manhã de inverno que lhe retirou do desespero e da dor, sabendo que mais uma vez o arco tornaria a vergar-se, o impossível, seria novamente feito. Então tudo que ele podia era agradecer!
Um comentário:
É claro que digo...
O passado sempre será passado é o tempo dele, mas as recordações podem ser boas. Ele nos ensina muita coisa e eu tenho certeza que você aprendeu, com seu passado intenso e certamente há, também, boas lembranças.
Postar um comentário