sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

In a sentimental mood (II)


O som de Coltrane contrasta claramente com o som de Tatum, trazendo à evidência a reconstrução de que falei no outro dia. O minimalismo virtuoso de Coltrane nos aproxima fortemente de sensações indizíveis que só o jazz pode provocar, enquanto o som de Tatum pode ser traduzido sem maiores dificuldades em uma apoteose da reinvenção. Assim, enquanto em Coltrane a música se aproxima daquelas percepções iterativas que não podem ser descritas, o som de Tatum se resolve num estado de aproximação com o viver, em sua ptraticidade.
Este texto é uma pulsão para dizer sobre aquilo que as palavras não podem dizer. Mas quanta contradição numa mesma frase!!!!! O título da canção nos auxilia, "in a sentimental mood" significa em português em um humor sentimental. Quem poderia dizer que tal canção não nos transmite tal sentimentalismo, uma disposição para um protrair-se numa condição nostálgica. Assim, duas constatações se fazem imprescindíveis: a primeira é que a música independente das palavras nos desperta sensações e a segunda é que nós somos incapazes de acessar tais sensações sem as palavras.
No primeiro caso é importante ressaltar que não é a música que está a nossa disposição mas sim nós estamos a sua. Neste sentido uma lição valiosa nos é passada, qual seja o mundo não é nosso enquanto propriedade mas sim enquanto um fazer parte de algo. Por isto, independente de nosso querer somos afetados por ele e dele se desenvolve nosso modo de ser por inúmeras sensações das quais sequer podemos ter idéia, vez que como disse só podemos acessá-las com palavras enquanto é necessário muito mais que palavras para acessar o mundo.
Neste diapasão o silêncio das palavras abre o espaço para o existir apropriador da música e de toda forma de influência sensorial que nos revela o apelo essencial do mundo como ele é. Contudo, como a segunda conclusão é de que só podemos acessar o mundo através das descrições que fazemos com palavras conclui-se que esta essencialidade esconde-se por trás das palavras. Estas, por sua vez, fazem o mundo parecer sempre com as limitações perceptivas que temos.
Por fim, isto não significa que de alguma forma não acessamos o mundo pela música de Coltrane ou Tatum mas que somos incapazes de descrever tal acesso fazendo destes mais uma afetividade que se protrai em nosso existir e influencia nosso modo de ser sem que possamos ter a capacidade de saber, ao certo, qual a influência efetiva deste tipo de estimulo em nossas vidas. Assim, é por direito concluir que no silêncio das palavras ainda há um mundo novo a ser descoberto.

Nenhum comentário: