quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Bate a sua porta

As portas são passagens, e disto nós todos sabemos, mas para onde? Carlos após aquela noite em que o medo, a angústia e o desespero lhe fizeram uma visita põs-se dias a pensar sobre tal encontro. Havia sido mágica? sonho? Não importava, mas tantas coisas que não nos importam são tão pulsantes em nossa mente que apesar da felicidade de ter reecontrado o amor, como Alice, continuava taciturno.
A paz que lhe foi introjetada pela borboleta não era o suficiente para fazê-lo esquecer daquela terrível sensação de morte que se lhe apresentara com aquela face gélida. Isto a tal ponto que quase desejava vê-la novamente, talvez agora pudesse remoer mais que suas entranhas, talvez agora pudesse lhe dizer algo. Sabia que não aconteceria e, mesmo que ocorresse, tinha a plena certeza de que um riso funebre ecoaria por todo o corredor. Que poderia fazer, se esquecer não era uma possibilidade.
Alice, como toda mulher, sentia a paz no coração de Carlos mas sabia que algo o incomodava, mas ahhhh como as mulheres são sábias, não lhe perguntou nada. Simplesmente, sempre que podia deitava a cabeça de seu novo homem em seu colo e lhe fazia carinhos como quem desejasse afastar dele toda angústia. O que, em sua sapiencia, sabia ser impossível, mas para Carlos aquilo era um bálsamo deixado por aquele encontro tão misterioso. Isto era suficiente, a felicidade.
As portas são passagens então por que aquilo não houvera deixado a soleira da porta? O que são as soleiras? Um transe entre o conhecido e o desconhecido preservam o mistério daquilo que há do outro lado. E assim Carlos pode chegar a conclusão de que aquilo que batera a sua porta era uma mensagem oracular, algo feito para intrigar. Toda passagem significa o reecontro com algo novo, no caso o amor de Alice, e todo mistério exige de nós a angústia de viver em busca de entender este algo novo.
As hostes de sangue que verteram dos olhos daquilo foram a suprema libertação de toda solidão que desesperava Carlos. Entendam duas coisas: uma coisa é a angústia existêncial que o mistério da existência nos provoca e outra é o desespero de querer ser outro, com o qual você pode sempre se acostumar mas a revolta, a amargura, o temor, nunca lhe deixarão escapar; por outro lado, e prestem bem atenção nisto, a soleira, o transe entre o conhecido e o desconhecido, sempre é um desafio do qual a solidão faz parte. Assim, a cada forma, angústia ou desespero, corresponde um tipo de solidão diferente.
Carlos via-se agora neste tipo de solidão decorrente da angústia e do mistério e a esta corresponde uma nova necessidade, não mais de se adaptar, a vida é muito mais do que se adaptar, mas de se abrir para descobrir um novo sentido para seu mundo para seu existir. Ahhh que tarefa solitária, mas ter sempre alguém por perto nos dando alento pode transformá-la em algo muito menos penoso. E como Alice entendia bem disto.

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