domingo, 11 de dezembro de 2011

Uma história sobre a condição humana

As hostes das religiões, filosofias e todo tipo de conhecimento que busca desvendar os mistérios do mundo, a imortalidade da alma, nosso lugar no pós morte já disseram muito e se digladiaram sobre nosso destino e o sentido de nossa existência, então o que teria eu para falar sobre isto? É por isto que a história de José Abdias não é sobre o pós morte ou mesmo a apologia a uma religião, mas sim uma história sobre a condição humana.
A peculiaridade de nosso protagonista estar agora morto talvez seja menos importante do que contarei a vocês hoje. Como sabemos José Abdias começou seus dias encarcerado, mas onde estava não se parecia em nada com uma prisão mas sim com um grande deserto, um lugar ermo e humido onde não existe luz e tudo que se ouve são lamúrios, gritos e choros. Em suma um lugar terrível em que o encarceramento consistia principalmente na presença dos outros e na liberdade para procurar um caminho, que sequer sabia onde poderia estar. Como bem sabemos, depois de ter sido encarcerado ali por culpa daqueles que tentou servir, não poderia mais confiar nas poucas centelhas de luz que lhe apareciam ou, mesmo, em qualquer outro. 
Ocorre que suas palavras continuaram servindo aos lamuriosos daquele lugar, afinal era melhor consolá-los do que continuar a escutar aqueles choros. Encontrou-se, então, com um homem de compleição saudável e não se lamentava ou fazia qualquer das extravagâncias que seus outros companheiros faziam. Durante dias observou o comportamento taciturno deste homem que tinha uma aparência tranquila, conformada. Tal homem mantinha-se sempre sentado em uma pedra alheio a todos aqueles problemas, como quem tivesse a certeza de que sairia daquele lugar, de que não havia por que se incomodar. 
José Abdias depois de muito pensar e se irritar com tal atitude aparentemente pacata resolveu interpelar o homem sobre por que ele não fazia o que os outros faziam e por que não tentava fugir daquele lugar. Aquela atitude raivosa de José fez o homem velhaco perguntá-lo, escarnecido, "o que esperas deste lugar? Onde pensa que está?" José corou e o homem continuou "não há nada que possa fazer, não há para onde fugir estes a quem você pretende consolar não estão embusca de consolo. O que resta é esperar."
Aquilo foi tão violento na mente de José que se retirou imediatamente da presença do homem como se fosse uma criança que havia feito algo errado. Pôs-se, então em solidão e começou a pensar no que o homem havia dito, mas não podia se conformar que não houvesse o que fazer, tinha de haver algo, mas o que? O que pode ser feito no desespero, caro leitor? Nada pode ser feito com a mente fechada em si mesma e desesperada, não é possível tomar as  rédeas de seus problemas se não puser a cabeça no lugar e tiver a tranquilidade de mansamente esperar que alguma solução se abrir em sua mente.
Não se trata de conformismo mas de abrir o espaço necessário para que o pensamento possa clarear e entender a natureza do problema e da condição que nos aflige, só então há qualquer possíbilidade de agir, pelo menos não com eficiência e temperança o suficiente para seguir em frente. Sim, José Abdias tinha que tomar as rédeas de sua atual condição, mas como fazê-lo sem entender tal condição? Sem saber por que ali está?

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