terça-feira, 6 de dezembro de 2011

In a sentimental mood


Redescobrir o Art Tatum foi uma surpresa feliz, como se redescobrisse uma vida de pequenos gestos, lentos gestos, uma vida feita para apreciar, para o ócio. Não entendo, como técnico de jazz, mas sou um apreciador das descobertas feitas por este estilo e da sua incrível capacidade de se reinventar, de fazer novas perguntas quando parecem que todas as respostas já foram dadas.
O Tatum e, como exemplo, "in a sentimental mood", tem uma capacidade de reconstruir standards e fazer deles uma produção completamente nova sem que esta perca sua capacidade de emocionar de nos fazer sentir acolhidos e próximos de algo assim como uma Divindade. Não é a toa que quando este pianista entrava nos lugares para tocar seus colegas afirmavam "God is Here", ou seja, Deus está aqui.
Nas reconstruções que Tatum fez dos standards tem, é claro, uma grande lição para a vida qual seja é indispensável ter olhos, mentes, corações abertos para reinventar. Estar pronto para recomeçar do ponto onde começamos mostra a disposição honesta para um viver que prescinde de resposta mas exige desafios, exige muito tato e coragem. 
Tatum é um exemplo que a arte, irmã da filosofia, tem muito a nos dizer sobre o viver sobre nossa capacidade de enfrentar os problemas com sobriedade e paz; e necessidade de enfrentar os problemas com mãos de homens e não com patas de rã. Laçar os desafios e segurá-los firme, para desconstruir cada um de nossos conceitos e criar novos.
A arte, na espécie, de Tatum denota também que há algo de belo, talvez indescritível para sua irmã, na capacidade que os homens tem, embora nela não creiam, de reconstruir a verdade de olhar o mundo de outro modo quando aquele que está instaurado, cicatrizado, não mais nos agrada. Ahhh que grande poder este, de fazer de novo surgir o verdadeiro, o essencial.
Se esta é uma capacidade de que fomos dotados é nosso dever escutar seu chamado e não há por que ter vergonha ou medo de construir uma nova vida, uma nova arte, uma nova filosofia ou qualquer coisa que não mais seja capaz de completar o sentido para nosso existir. Este sentido prescinde de uma única verdade e nos permite chegar a diversos lugares de acordo com o caminho que escolhamos para nossa vida.

Nenhum comentário: