terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

O narrador

Existem três seres que são tão importantes às histórias e falsificações que contamos a fim de ver quadros enxutos de nossa existência sairem pálidos de nosso sersão eles: os personagens, o escritor e ele o narrador. Percebam que eu diferenciei o narrador do escritor este é o senhor da história de onde todos os quadros saem enquanto aquele é somente o arauto, o bardo, que conta a história; este sabe toda a história mesmo que numa percepção iterativa enquanto aquele só a toma conhecimento na medida de uma consciência que se forma racionalmente.
O narrador é fiel ao escritor, o único fiel, pois não poderia não sê-lo está adstrito à capacidade de racionalizar a vida e a existência dos personagens daquele. Nele falta, ainda, um pouco da palidez e sobra um resto de vida, uma existência autônoma que serve de médium para a pálidez que deve se instaurar nas angústias que se materializa nos personagens.
Deixe-me demorar, apenas um segundo, será que ainda posso ficar aqui preso nesta idéia de que o narrador é um médium? Será que se é assim não brilha em si já um tanto do exagero e da falsificação dos personagens nele, e como um catalisador ele é tomado pela reação química que transforma os personagens em plasmas que se desprendem do escritor? Ahhh mas quantas dúvidas sobram em mim agora, o quanto das percepções internas de cada personagem exagerado, falso, mentiroso e velhaco é de direito do narrador? Nenhuma provavelmente.
A impaciência me toma agora, então, sigamos em frente pois já não sei mais quem sou; nesta dialética infernal divido-me em tantos que a verdade está tão longe de mim e estes personagens riem face a minha própria existência, o pouco de vida que eu empresto ao narrador para que ele arranque de mim as angústias transformando-as em personagens é o suficiente para que, como num sonho, estes velhacos escarneçam da minha existência que lhes empresto; e agora já não posso mais lhe dizer quem sou. 
Desvio-me por estas sendas, inevitávelmente, não me encontro mais neste ser mas agora sou muitos enquanto sou um só e a inefabilidade do narrador já se mostra, pois somente este é o senhor da reação alquímica que poderá dividir minha vida em muitas e ver nela camadas e também destruir toda esta peça que se constrói a minha volta para que eu possa ser novamente eu. Ahhh narrador, sou eu ou sou você o guardião do sentido de minha existência? Me retire por favor deste desespero!

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