Primavera nos dentes

Secos e Molhados inauguraram no Brasil um gênero de música que junta a música a performance e todo o lúdico no processo de construção artística prioritariamente musical. Hoje tal modo de ver a música como uma compleição entre teatro, vestimentas e interpretações artísticas se tornou algo usual novamente.

Hoje tal perspectiva, de uma arte totalista, busca trazer de volta juventude a relação com o particular, com o lúdico e os níveis de consciência que podem ser estimulados pela compleição da arte em relação aos elementos culturais próprios de uma determinada compreensão do mundo, no caso brasileiro é um estatuto político dos mais relevantes pois trata-se propriamente da valorização cultural e artística do ser tradicional de determinados locais que foram a todo tempo preteridos em relação à música dos states.

Em secos e molhados vemos também a valorização cultural de nosso país mas muito mais vemos a valorização de uma juventude latino americana como um ser universal identificada pelo tercer mundo global e desafiada pelas mesmas questões. Uma juventude que tinha um sonho e não abria mão dele carregando com toda sua angústia e rebeldia sua primavera. Neste sentido a arte completa remetia mais do que a níveis de consciência do lúdico relacionado a identidades culturais particulares, mas a um realismo fantástico reunificador da consciência identitária da rebeldia e dos problemas de determinado tempo.

Secos e molhados não é um exemplar da cultura brasileira, mas da cultura latino americana e de toda uma geração que buscou inventar sua contra-mola resistente em diversos projetos artísticos dos quais este, a arte completa, foi o mais ousado, pois apelou a todo simbolismo perceptível na autocompreensão que pretendia representar. Em suma foi a expressão mais concreta de um sonho de primavera que sem se desiludir se sabia fruto da luta política e artística.