quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A morte de José Abdias


José Abdias era escritor e como todo bom inventor dedicava sua vida às suas criaturas. Estas feitas de palavras ganhavam vida feito alquimia, feito um sonho angelical que traz conforto e paz. Por elas deixou tudo, pais, mães, filhos, ou melhor, passou a ter únicos filhos os sonhos e pesadelos que trazia à vida, sim, trazia à vida para o conforto de pobres como eu.

Certo dia caminhando pela cidade tive notícias de sua morte, mas como justo agora em que o impalpável juntou suas pontas à matéria, justo agora que seu brilhantismo em fim se revelou. Como pode ter morrido um gênio que ressuscitou o genêro trágico em nossas vidas e ainda tinha tanto a nos oferecer. Justo ele que de bom grado aceitou ser uma ponte entre este mundo e o mundo virginal do sonho. Tudo que pude foi ficar ali, parado naquela mesa de bar atônico, impávido.

Olhem não fui só eu, há muito não via uma morte causar tamanha comoção fosse por seu espírito bem aventurado, pelas gorgetas que sempre deixava nas esquinas que passava, pela morte prematura, pela dor de perder um homem que dedicou sua vida a um único sacerdócio, o das palavras, todos estavam comovidos, chorosos. Mesmo aqueles que o odiavam sabiam da falta que faria, mesmo aqueles que lhes eram indiferentes sabiam que uma luz no mundo houvera se apagado.

Quanto a mim? Não, não se tratava de de tristeza, nem de dor mas de pura curiosidade. Daquelas que arrebatadoramente nos tomam, nos enchem, e angustiam o fundo de nosso ser. Sentia sim sua morte mas não como uma dor qualquer, mas como a própria dor do escritor própria dor que ele devia ter deixado, não a morte mas o fim de sua história, o fim do único homem que poderia juntar as pontas entre aquilo que sempre é e aquilo que está sendo.

Se houvesse um obituário nada poderia dizer ou sequer descrever quem foi este homem, por que como os sons ele subia sua freqüência até lugares que jamais nós pobres mortais poderíamos alcançar e, ainda assim, nos deleitávamos. A uma distância segura é claro, estrelas brilham e erradiam calor e nós, pobres mortais jamais poderíamos, verdadeiramente, nos aproximar. Tudo que restou foram prostitutas falando sobre sua grandiosidade e o “sexo” do nobre autor, sim, seu “sexo”, suas palavras. Entre críticas literárias e choros familiares sabemos que jamais deixarão que José Abdias de fato morra e vá até o lugar onde o impalpável pelo qual tanto deu, é real. Que destino cruel para quem só quis o bem

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