domingo, 18 de maio de 2008

O sol, a alma e o jugo

O mundo havia se tornado um caos. O sol invadia aquele ambiente desconstruído trazendo um rastro de luz à escuridão que pairava sobre aquele monte de caixas, seu calor e sua luz aqueciam o universo frio daquela sala. Joana permanecia ali, parada, fraca, com uma mão na porta, para não cair, e a outra na cintura, simbolizando sua decisão.

As vertigens tomavam seu corpo e se transmutavam em embriaguez, o sol que cortava a sala escura lembrava-lhe de sua própria alma. Quantas vezes ficara sozinha nesta casa? Tantas que ela se tornou sua melhor amiga e companheira. Os matizes de cores e formas daquele ambiente pareciam materializar os estados de alma de Joana, mas agora, aquela escuridão cortada pela luz e calor do sol lhe fazia entristecer.

Certamente não era fácil deixar pra trás a vida que abraçara ainda aos 19, a contra gosto de sua família, mas tinha que ir, pois ficar a destruiria. Assim, para que não houvesse nenhum afeto que lhe fizesse mudar de idéia, decidiu não discutir nem comunicar Carlos Alberto. Procurou frete e esperou que ele viajasse, era só um dia então teria que ser rápida e não poderia levar muita coisa, mas quem precisa de muita coisa pra iniciar uma nova vida?

Não imaginava que só o fato de deixar a casa lhe provocaria tais afetos, as lágrimas correram e a embriaguez se tornou mais forte. Que misto de afeto e estética incrível, a visão linda da invasão do sol lhe extasiava e, ainda assim, chorava copiosamente, seus pés não lhe obedeciam; se os tivesse movido teria caído, mas que importava, já havia caído num buraco negro sem volta.

Olhando aquele mundo escuro e aquelas estrelas encaixotadas, perguntava-se: “Quando foi o fim? Quando deixei de amá-lo?”. Não esperava respostas para esta pergunta, mas não se conformava de não entender porque estava convicta: Carlos Alberto era o mesmo. Sentia que era ela, era ela que não era mais a mesma, que não poderia mais suportar aquela vida. Não fora um homem mal, ela bem o sabia, mas o fato é que o amor passou.

Lembrou-se, de súbito, do dia em que completaram 10 anos do dia em que haviam se conhecido. Carlos Alberto prometeu chegar cedo para que tivessem um jantar romântico, mas não o fez. Ao chegar tirou bruscamente a roupa deixando a mostra seu membro já em riste, Joana tirou por um segundo os olhos do livro que lia e viu Carlos Alberto avançar por cima dela rasgando-lhe a roupa como um animal, sem dizer sequer uma palavra, Joana não o contrariou, abriu as pernas, discretamente ligou a tv e se manteve entretida com ela até que Carlos Alberto jorra-se seu sêmen por cima de seu corpo. O nojo tomou conta de si, foi correndo ao banheiro lavar-se, demorou uma hora e ao sair do banheiro deparou-se com um tímido “me desculpe, ter furado” de Carlos Alberto, virou pro lado e dormiu com nojo dele e de si.

Forçou-se para lembrar-se das coisas felizes, mas só memórias esdrúxulas como esta vinham a sua mente, recusava-se a acreditar que só tinha vivido momentos deprimentes, sabia que não era verdade, ainda assim... Desistiu entregou-se à vertigem e caiu, sentada, chorando. Era hora de ir, precisava se livrar da angústia!

Ao sair, embora soubesse que Carlos Alberto certamente saberia aonde ela estaria, decidiu não deixar bilhete, confiava que ele entendesse que não devia procurá-la. Amava-o? Não, amava a história de amor que viveram e se perdeu. E por isto é que se sentia triste, não imaginava deixá-lo. Mas já pensava nos dois como dois navios que num grande mar se cruzaram e puderam trilhar a mesma rota por algum período de tempo e que agora deveriam separar-se, quem sabe a maré não os reunisse de novo? Quem sabe não teriam ocasião de festejar mais uma vez, juntos, a vida?

Um comentário:

Maghá disse...

Paulo,estou completamente envolvida com esse conto. Você descreve os sentimentos de uma forma, que quase sinto o "sabor" de cada um deles. Quero mais,muito mais... Beijos