quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

O Passado

Despertou com batidas na porta, tão sólidas, tão graves, desesperadas que lhe provocaram um susto. Será que alguém havia morrido? Logo lembrou que não tinha mais ninguém, estava só faziam três anos desde que sua esposa e filhos foram mortos em um acidente de carro. Deu-se, então, conta que há muito, inclusive, não batiam a sua porta com tal gravidade. Na verdade, sequer batiam em sua porta, salvo Alice a vizinha que por pena ou sentimento que o valha às vezes vinha lhe fazer companhia.
Será que era chegada a hora? Bem sabia que um dia haveria que seria compelido a retribuir toda atenção e carinho que a moça de trinta e poucos anos havia prestado aquele senhor, velho, amargo, e cansado da vida. Foi este pensamento que o fez parar a frente da porta e congelar, no tempo, como se por um segundo tudo a sua volta mantivesse no mesmo estado. Será que teria condições de retribuir tal favor, será que seu cansaço se afastaria pelo menos por alguns minutos? 
Tomou folego enfiou a chave na maçaneta como quem num lento gesto de aproximação tatea-se no escuro esperando não encontrar um monstro, Alice e seus prantos. Ao rodar a maçaneta sua segurança voltou pensava consigo mesmo "Eu devo isto a ela, então tenho que ser forte." Eis que a porta se abriu. Ahhh como queria ter desistido antes de abrir, e só o tinha feito pelo afeto a Alice. 
Sim, era um monstro que se eoncontrava atrás da porta mas não aquele que havia imaginado. Este lhe causava pavor e certamente vinha acompanhado de sua morte. Um frio intenso se irradiou por toda a casa ao ponto de parecer inverno embora fizesse um calor infernal. Quem era aquele ser postado a sua frente fitando-o com olhos tão gélidos e poderosos? Não tinha sequer coragem de perguntar, mas sabia bem a resposta sentia no frio que irradiava por sua espinha a verdade sobre quem era aquele ser.
Será mesmo que era um ser ou talvez um nada? Que isto importava? Nunca houvera sentido tamanho medo tamanha solidão. A solidão, com a qual se acostumara, tornara-se, de súbito, intensa e o fez chorar. Continuava a encarar aquilo mas não tinha condições de mover-se ou talvez estivesse se movendo, pois toda suas entranhas se reviravam e a vontade de vomitar crescia a cada instante. 
A angústia era tanta que torcia para que se trata-se de um sonho, batia em seu rosto, e se agredia de todas as formas para acordar deste pesadelo, mas de nada adiantou. A face gélida criou um rosto e começou a escarnecer e apiedar-se da condição dele. Rezava por Alice, quem sabe ela poderia retirá-lo deste transe, gritava mas não encontrava eco. 
Descobrira então que o inferno era frio e que se havia se apossado de seu ser. Nesta terra o inferno não tem um corpo próprio então aproveita-se das fraquezas, do amargor, da solidão para travestir-se e se apossar de nossas vidas. Culpava, então, Alice por ter lhe feito enxergar de fato onde estava metido, onde vivia, e o que havia feito de sua vida. Aquele encontro era fruto do amor, do afeto que havia lhe dispensado; a face gélida havia batido com pressa de quem vai embora para que a vida retorne, para que o existir deste homem pudesse então ser purificado. 
Então chorou sangue como quem tristemente se despede e então virou as costas e sumiu transformando-se em borboleta com luzes lindas que foram introjetadas no peito de nosso protagonista. Este sentiu uma paz tão serena e parecia que a vida havia sido restaurada em seu coração, todo amargor se foi e sentia-se jovem como um menino. Pela primeira vez foi ele quem acorreu à porta de Alice e quando a viu abrir a porta, de robe, assustada pela hora e pela situação inédita sorriu, sabia intuitivamente o que acontecera. Um beijo nosso protagonista lhe deu, e enfim pode seguir em direção ao futuro.

Um comentário:

Anônimo disse...

Nossa, sem comentarios pra sermos felizes demore o tempo q for necessario + essa felicidade as vezes esta + proximo do q enchergamos...