terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Seu lugar

Como as coisas tem tantos significados? Será que é possível, enganar tanto uma pessoa? Ser tão mal assim que brinca com os sentimentos dos outros, fazendo elas de lixos humanos? Ou talvez tudo tenha um significado diferente para cada pessoa, um que não podemos entender, pelo menos sem ver o quadro todo. 
Os significados fascinavam Gabriela que, 5 anos antes daquele fatídico dia, havia perdido toda a fé na sua vida e vagava pela rua se prostituindo e dando-se a qualquer um que lhe passava uma nota de 20 reais, mas não tinha mais o desejo de significar nada para ninguém. Por isto os significados lhe interessavam tanto, por que ela mesma não tinha mais nenhum. Objetos, brinquedos, são simples objetos de desejo que se perdem na noite com o sono pesado posterior ao jorro de semên ou que são expulsos de sua vida no minuto em que se tornam atuais e não mais expectativas.
Vagava pela rua e concluia, a cada vez, que realmente nada tinha de importante, não significava nada para ninguém; foi encontrada então pela Baronesa, com seu coque louro e sua pele perfeitamente maquiada, que lhe disse "como, meu bem, pode estar aqui vagando nesta rua e vendendo-se por tão pouco sendo tão linda, você virá comigo"
Tal frase lhe fez recuperar o sentido de que tinha alguma importância, de que representava algo e, por isto, a seguiu sem se importar para  onde. Mal sabia ela que a Baronesa era mais cruel e humilhante que a rua, mas talvez por àquela epifânia nuncaa tenha se queixado de qualquer de suas humilhações e de ser oferecida a homens como um pedaço de carne em um mercado. 
Estava, contudo convencida, é sim possível enganar tanto uma pessoa e, mais que isto, é possível brincar com os sentimentos dos outros transformando-as em lixo. Ainda estava convencida de que agora era de verdade um nada, mas então por que continuava? Se já tinha conseguido dinheiro suficiente para ter sua liberdade? Por que apesar de toda dor que uma pessoa pode nos causar continuamos, não tornamos peremptas as situações? Não as tornamos proscritas de nosso mundo? Será mera falta de coragem, ou talvez o medo de ter que novamente se encontrar consigo?
Gabriela chorava a cada fim de noite pensando nestas coisas e se culpando por ser tão fraca, tão incapaz de pôr um fim nisto. Seu coração se revoltava e seu sorriso, que antes e depois estava sempre prestes a aparecer, sumia como se levado pelo vento. Tentava em vão arranjar respostas. Mas, leitor, não se tratava de medo ou covardia mas de um sentimento, muito natural, de consolidação dos significados em nossa vida. Tal consolidação impõe que sempre vejamos um quadro como já o vimos antes ou encontremos formas parecidas com aquelas que já conhecemos e a elas nos restrinjamos. 
Por que não estabilizar a vida é viver do mistério e quem, hoje, tem estrutura suficiente para aguentar a todo tempo o medo do que a vida pode nos oferecer e ver em cada nuvem uma nova forma, ainda não vista, em cada estrela um brilho novo e diferente? Quem de bom grado poderia admitir que sua vida pode se transformar em um simples segundo? 

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